A tensão entre Itália e França se aprofundou nesta quinta-feira (7)depois que Paris chamou para consultas o seu embaixador em Roma, depois de uma série de “ataques sem precedentes” por parte de dirigentes desse país contra o presidente francês, Emmanuel Macron.
Paris chamou para consultas o seu embaixador em Roma após várias “declarações desmedidas” e “ataques sem fundamento” e “sem precedentes” de dirigentes italianos, anunciou nesta quinta o Ministério francês das Relações Exteriores.
“A França tem sido, há vários meses, objeto de acusações reiteradas, de ataques sem fundamento, de declarações desmedidas que cada um conhece e pode ter em mente”, declarou a porta-voz do ministério, Agnès von der Mühll, em comunicado.
“Isso não tem precedentes, desde o final da guerra (…) As últimas ingerências constituem uma provocação adicional e inaceitável”, acrescentou.
O encontro de terça-feira de Luigi Di Maio, vice-primeiro-ministro italiano e chefe do Movimento 5 Estrelas (M5E), com membros dos “coletes amarelos”, mobilizados há várias semanas contra Macron, foi a gota d’água.
Di Maio anunciou na terça pelas redes sociais que se reuniu com membros deste coletivo antigoverno. “O vento da mudança cruzou os Alpes”, concluiu após a reunião.
“Esta nova provocação é inaceitável entre países vizinhos e sócios dentro da União Europeia (UE)”, comentou um porta-voz da Chancelaria francesa.
No início, Di Maio já havia dado seu apoio aos “coletes amarelos”. “Não cedam!”, havia dito a eles no blog do M5E.
– ‘Fins eleitorais’ –
“Ter desacordos é uma coisa, instrumentalizar a relação com fins eleitorais é outra”, apontou nesta quinta-feira a Chancelaria francesa.
O ministro italiano do Interior e líder da Liga, Matteo Salvini, tenta organizar uma frente europeia de extrema direita contra os pró-europeus, entre os quais está Macron, visando as eleições europeias de 26 de maio.
“A campanha para as eleições europeias não pode justificar uma falta de respeito”, disse Agnès von der Mühll.
“Todos esses atos criam uma grave situação que coloca as intenções do governo italiano sobre a sua relação com a França”, afirmou.
“Não queremos brigar com ninguém”, disse Salvini nesta quinta em declaração. “Não nos interessam as polêmicas: somos pessoas sérias e defendemos os interesses italianos”, escreveu.
Pediu aos dois países que encontrem uma solução para seus problemas, incluindo o controle fronteiriços franceses na fronteira italiana e as exigências de Roma para a extradição de militantes de extrema esquerda italianos que vivem na França.
Ele e Di Maio disseram que estavam “disponíveis” para conversar com o governo francês.
A guerra de palavras entre as duas capitais europeias começou logo depois que o Movimento 5 Estrelas e os partidos de extrema direita da Liga venceram as eleições italianas e formaram um governo de coalizão.
Emmanuel Macron, um centrista, esperava ver surgir um governo que apoiaria seus planos de reforma da União Europeia. Mas, ao invés disso, ganharam os eurocéticos, os antissistema do M5E e os extremistas de direita da Liga.
Em junho 2018 Macron criticou o “cinismo e irresponsabilidade” do novo governo italiano após este se recusar a permitir que embarcações de resgate com migrantes atracassem em portos italianos, e comparou a ascensão do nacionalismo de extrema direita com a “lepra”.
Já Salvini disse recentemente que espera que o povo francês seja libertado muito em breve de Macron, a quem considera “um péssimo presidente”.