Por Juliette Jabkhiro

LE HAVRE, França (Reuters) – O Reino Unido repudiou nesta quinta-feira a apreensão “desproporcional” pela França de um barco pesqueiro britânico em águas francesas, assinalando uma deterioração aguda de uma crise pós-Brexit ligada aos direitos de pesca que corre o risco de sair de controle.

A ministra francesa dos Mares, Annick Girardin, disse que a embarcação foi detida de madrugada durante verificações de rotina no litoral do porto de Le Havre, no norte, porque não tinha permissão de pescar em águas territoriais francesas. Um segundo barco britânico recebeu um alerta verbal.

A ação sinalizou a determinação da França de não recuar em uma disputa depois de delinear possíveis sanções contra o Reino Unido se não houver progresso nas conversas. Elas incluem verificações alfandegárias adicionas de bens britânicos e o que foi visto por muitos como uma ameaça de reduzir as exportações de eletricidade ao Reino Unido ou elevar tarifas se as conversas fracassarem.

“Não é uma guerra, mas é uma luta”, disse Girardin à rádio RTL.

As áreas de pesca britânicas estão entre as mais ricas da região do nordeste do Atlântico, onde a União Europeia obtém a maior parte de seu pescado.

As ações francesas parecem concebidas como um disparo de aviso para pressionar o Reino Unido a ceder nas conversas com a UE.

Mas o governo britânico disse que a reação francesa foi “decepcionante e desproporcional, e não o que seria de se esperar de um aliado e parceiro próximo”.

“Estamos cientes de relatos de atividades de cumprimento sendo realizadas pelas autoridades francesas e estamos analisando o assunto com urgência”, disse Londres em um comunicado.

Paris diz que o Reino Unido se recusa a conceder aos pescadores o número total de licenças para operar nas águas britânicas que a França diz serem justas, e o Reino Unido diz estar emitindo licenças para embarcações que atendem seus critérios.

Na quarta-feira, a França disse que adotará verificações alfandegárias adicionas de bens britânicos entrando em seu território a partir de 2 de novembro. Ela também está estudando uma segunda rodada de sanções e não descarta uma revisão das exportações de eletricidade ao Reino Unido.

“Então agora precisamos usar a linguagem da força, já que esta parece ser a única coisa que este governo britânico entende”, disse o ministro francês de Assuntos Europeus, Clément Beaune, ao canal de televisão CNews.

Girardin deixou claro que a França não pode interromper o fornecimento de eletricidade ao vizinho europeu, mas disse que pode elevar tarifas, uma medida que apertaria os orçamentos domésticos em um momento no qual os preços da energia já estão em disparada.

(Por Juliette Jabkhiro em Le Havre, Sudip Kar-Gupta, Richard Lough, Michaela Cabrera e Layli Foroudi em Paris e Andrew MacAskill em Londres)

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH9R0TP-BASEIMAGE