O presidente Emmanuel Macron anunciou nesta quinta-feira (27) a criação de um novo serviço militar voluntário de 10 meses para jovens maiores de idade, em um contexto de crescente preocupação na Europa devido à Rússia.
Este serviço militar destina-se principalmente a jovens voluntários de 18 e 19 anos, terá duração de 10 meses e será remunerado com cerca de 800 euros mensais (aproximadamente 4.970 reais), informou a Presidência francesa.
“Nossa juventude tem sede de compromisso. Existe uma geração pronta para se levantar pela pátria”, afirmou Macron ao anunciar a medida durante a visita a uma brigada de infantaria em Varces, no sudeste da França.
O país suspendeu o serviço militar obrigatório em 1997, durante a presidência do conservador Jacques Chirac, assim como outros países após a dissolução da União Soviética em 1991 e fim da Guerra Fria.
No entanto, a invasão russa da Ucrânia em 2022 trouxe as preocupações de volta à Europa. Atualmente, doze países europeus possuem um serviço militar obrigatório, e vários decidiram instituir um voluntário.
“A aceleração das crises, o aumento das ameaças me levam a propor hoje um serviço nacional puramente militar”, destacou Macron.
O anúncio ocorre após a polêmica gerada pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Fabien Mandon, que na semana passada pediu aos franceses que “aceitem perder seus filhos” em caso de conflitos na Europa.
Os voluntários servirão apenas em “território nacional”, esclareceu o presidente francês, dois dias após garantir que não se tratava de enviar esses “jovens” para lutar na Ucrânia.
– Dissuasão –
As Forças Armadas desta potência nuclear contam com aproximadamente 200.000 militares ativos e 47.000 reservistas. O objetivo é ampliar para 210.000 e 80.000 pessoas, respectivamente, até 2030.
A Revue Nationale Stratégique 2025, diretriz da França em matéria militar, recomendou o serviço voluntário para criar uma reserva de pessoas preparadas em caso de crise e também para “reforçar a coesão nacional”.
Em 2019, a França lançou o Serviço Nacional Universal (SNU) para jovens entre 15 e 17 anos, que incluía uma “missão de interesse geral” e jornadas “de coesão”, mas não teve grande sucesso. E o contexto internacional mudou.
A formação militar de cidadãos, além dos soldados profissionais, e o aumento dos gastos militares enquadram-se na estratégia dos países europeus de dissuadir Moscou de expandir sua guerra na Europa.
A França prevê destinar 413 bilhões de euros (2,56 trilhões de reais) em gastos militares entre 2024 e 2030, em um contexto de redução dos gastos para equilibrar as contas públicas.
Com o serviço militar voluntário, espera-se contar com 3.000 participantes na primeira turma de 2026 e 42.500 em 2035. O número pode alcançar 50.000 então, se incluídos outros dois programas de inserção já em andamento.
Os selecionados entre homens e mulheres voluntários de 18 e 19 anos corresponderão a 80%, enquanto os 20% restantes serão jovens de até 25 anos com um perfil mais especializado, como engenheiro, analista de dados, enfermeiro, etc.
A possibilidade de alistar-se no Exército para tornar-se soldado profissional continuará existindo.
Os voluntários passarão a integrar uma reserva operacional, o que implica que deverão estar disponíveis cinco dias por ano em caso de necessidade durante cinco anos.
A maioria dos partidos políticos e dos franceses é favorável à reintrodução de um serviço militar. Segundo uma pesquisa de março da Ipsos, 33% das pessoas entrevistadas desejavam que fosse voluntário.
fff-tjc/dbh/jc/fp