22/04/2024 - 11:15
Paleontólogos trabalham com pressa antes que a maré suba em uma praia na costa central do Chile: eles resgatam os restos fósseis de um réptil marinho único que viveu há 70 milhões de anos, um tesouro para os cientistas.
Com os sapatos e as calças encharcados, os especialistas extraem das rochas os restos de um “elasmossauro”, um habitante marinho da era Cretácea, que começou há 145 milhões de anos e terminou há 66 milhões de anos.
Trata-se de uma espécie com cabeça pequena, pescoço longo e membros modificados em forma de nadadeiras.
Os restos mortais foram encontrados na praia de Algarrobo, um movimentado resort à beira-mar a 100 km a oeste de Santiago.
Ele é de especial interesse para a ciência porque seu esqueleto – medindo entre 10 e 12 metros – está praticamente completo, algo muito raro nesse tipo de achado.
Também porque teria vivido em um período para o qual não havia registro no Chile.
“É mais antigo do que outros registros que tínhamos de elasmossauros. Os anteriores eram do final do Cretáceo, há cerca de 66 milhões de anos. Este seria um pouco mais antigo, cerca de 70 milhões de anos atrás”, diz o paleontólogo Rodrigo Otero, da Universidade do Chile, que liderou a expedição.
Ao contrário de outros elasmossauros descobertos, que se alimentavam de plâncton por filtração, esse espécime tinha dentes e presas, prova de que comia peixes.
“Seria algo novo em relação ao que conhecemos. Não sabemos se será um novo gênero, uma nova espécie, mas é um tipo de animal que não tínhamos registrado totalmente no Chile”, acrescenta.
Para extrai-lo, os cientistas da Rede Paleontológica da Universidade do Chile tiveram que organizar expedições nos dias em que há poucas pessoas na praia e em algumas das poucas marés baixas do ano.
Isso se deve ao fato de que a rocha que esconde esse réptil pré-histórico, de uma linhagem que se extinguiu sem deixar descendentes, está localizada no quebra-mar, onde a areia e a água a cobrem e a descobrem intermitentemente, ao sabor das correntes marítimas.
Enquanto alguns cientistas cortam e quebram a rocha com martelos, cinzéis, furadeiras e serras, outros constroem uma barreira com pedras, areia e algas e, em seguida, usam uma bomba para remover a água que penetra ou emana da escavação.
Todos os dias, as mesmas tarefas e a mesma paciência são realizadas durante os três dias da expedição.
“Um fóssil é uma conquista de probabilidades”, diz Otero.
Para que um esqueleto articulado seja preservado, “são necessárias condições ambientais muito particulares no momento em que o animal morre: que não haja predadores para destruí-lo e que ele seja enterrado rapidamente”, explica.
Os restos mortais foram encontrados por uma moradora de Algarrobo em 2022, quando ela estava caminhando pela praia. Ela se deparou com uma rocha que mostrava claramente vértebras articuladas. Ela alertou os especialistas, que perceberam que se tratava da cauda do animal.
Com a ajuda de paleontólogos, ela localizou o restante da formação rochosa da qual o bloco que ela havia encontrado inicialmente havia se soltado. Como resultado, uma escavação foi realizada em novembro passado e outra em abril.
Os blocos de rocha – grandes e pequenos – contendo os fósseis foram levados para os laboratórios da Universidade do Chile, em Santiago.
Lá, começa o trabalho lento e meticuloso de limpar o esqueleto do elasmossauro preso na rocha com pequenos cinzéis e martelos.
“Encontramos elementos desde a cauda até as costas e alguns elementos do crânio. No entanto, ainda estamos descobrindo o que há dentro desses blocos”, diz o paleontólogo Héctor Ortiz.
A primeira coisa a sair das rochas extraídas este mês foi um dente fossilizado preto de dois centímetros.
Para que os demais vejam a luz do dia, será necessário um processo que pode levar de um a dois anos. Só então começará o trabalho real de estudo e identificação desse elasmossauro.
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