PORCELANA Tigela milionária: artefato chinês do século 15 foi comprado por R$ 195, mas valia R$ 4 milhões (Crédito:Divulgação)

Imagine fazer uma reforma em sua casa e achar no forro do telhado uma pintura avaliada em dois milhões de euros, o equivalente a mais de R$ 13 milhões. Pois foi isso que aconteceu na região de Marne, na França. A família, que prefere não se identificar, se deparou com a obra do pintor francês Jean-Honoré Fragonard e logo percebeu que tinha algo raro nas mãos. Já nos EUA, um homem encontrou algo inesperado em uma feira de objetos usados. Uma peça de antiguidade chinesa, à venda por apenas US$ 35 (R$ 195), foi comprada e levada para a avaliação. Foi aí que veio a surpresa: o objeto valia 29 mil vezes mais — US$ 720 mil, mais de R$ 4 milhões.

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Isso também pode acontecer no Brasil. Uma idosa do interior do Pará precisou mudar de cidade após encontrar em seu quintal dezenas de moedas do período imperial do País. Como cada uma podia custar até R$ 15 mil na mão de colecionadores, o achado gerou um frenesi na pequena cidade de Colares, a 62 quilômetros de Belém. A idosa de 77 anos, cuja identidade ela tenta manter em sigilo, morava com a irmã de 85 anos e ambas tiveram até a casa invadida. O filho divulgou comunicado afirmando que as pessoas estavam mal informadas e o que o tesouro nem era tão valioso assim. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN) isolou a área do terreno para protegê-lo e checar se há mais itens históricos no local. As moedas não podem sequer ser vendidas legalmente, pois são consideradas artefatos arqueológicos históricos que precisam ser arquivados e catalogados.

“Muitas pessoas esconderam seus objetos de valor no período das guerras, principalmente durante o nazismo”
Sérgio Pelegrini, professor de História da Arte

Dinheiro na mão

Para o historiador Marcos Lima, o que leva pessoas a pagarem mais de US$ 700 mil em um objeto de porcelana da Dinastia Ming é o desejo de exclusividade. “A pessoa que faz este tipo de aquisição se rende à emoção. Tem admiração pela linha criativa da peça e reconhece a importância da obra para a sociedade”, diz. Já o professor de história de arte da Academia Brasileira de Arte (ABRA), Sérgio Pelegrini, acredita que o valor também está associado ao estado de conservação. Ele questiona ainda como uma peça chinesa produzida entre os anos de 1403 a 1414 foi parar em um quintal de uma cidade americana. “É algo que deve ter passado de geração a geração. O pote deve sido trazido por alguma família refugiada e teve a sua importância esquecida ao longo dos anos, até virar uma simples tigela”, diz.

Depois de adquirir a peça, o homem — que também não quis revelar a identidade — enviou fotos da porcelana para a casa de leilões Sotheby’s para fazer uma avaliação. Branca e com desenhos de flores de lótus, peônias, crisântemos e romãs, a tigela teria sido originalmente encomendada pela corte imperial da China no século 15. A responsável pelo departamento de arte chinesa na casa de leilões americana, Angela McAteer, afirmou que o item é conhecido como “Tigela de Lótus” e que possui todas as características que se esperariam do período sob o domínio do imperador Yongle. “O líder chinês foi um dos responsáveis por promover a importância artística da porcelana”, disse McAteer.

O quadro “O Filósofo Lendo”, de Fragonard, apesar de ter sido estimado em dois bilhões de euros, irá a leilão em junho e pode acabar saindo bem mais caro se houver competição pela peça — o que deve acontecer. “Apesar de pouco conhecido na comparação com outros pintores franceses, Fragonard foi único em seu estilo rococó”, afirma Pelegrini. O professor diz que andar pela Europa é “pisar em arte” e muitas coisas aparecem escondidas em casas e são vendidas em mercados de pulgas como “velharias”. “No período de guerras, principalmente durante o nazismo, muitas pessoas esconderam seus objetos de valor. É amplamente conhecido o quanto as obras, principalmente dos judeus, foram roubadas e extraviadas”, explica. Fica a dica: na próxima viagem ao velho continente, talvez seja melhor trocar os shoppings de luxo pelas lojinhas de objetos usados.

Achado não é roubado
Em casa ou em lojas de objetos usados, quem sabe garimpar peças raras pode ser recompensado com boas surpresas