Sustentabilidade é palavra de ordem na Fórmula E, competição exclusiva de carros elétricos da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Para dirimir os efeitos da poluição e promover uma competição enxuta, a categoria busca se associar diretamente a grandes centros urbanos. O contraste de carros elétricos em ambientes comumente ocupados por poluição de todos os tipos (sonora, visual e ambiental) é um fator estratégico da categoria, que limita seus eventos a apenas dois dias do fim de semana.

“No início da Fórmula E, quando batemos na porta dos governantes, procuramos as maiores cidades do mundo, porque normalmente são as que têm os principais problemas de emissão de poluentes. Fomos para Pequim, Berlim, Londres e Nova York. A princípio, os prefeitos nos olhavam como se fôssemos loucos. ‘Você vai fechar o centro de Paris para fazer uma corrida de carro perto da Torre Eiffel?’. Então, a primeira mensagem é que a Fórmula E corre no centro da cidade para enviar essa mensagem de que o carro elétrico é o primeiro passo para as cidades baixarem as emissões de carbono. A parte urbana da Fórmula E é o que a torna tão especial”, explica ao Estadão o espanhol Álvaro Buenaventura, diretor da Fórmula E na América Latina.

Na temporada 2022/2023, a Fórmula E é composta por 16 corridas em 11 diferentes países. Arábia Saudita, Alemanha, Indonésia, Itália e Reino Unido recebem duas provas no mesmo fim de semana, enquanto México, Índia, África do Sul, Brasil, Mônaco e Estados Unidos têm etapas mais simples, com apenas uma corrida no fim de semana.

Na Cidade do Cabo, assim como será em São Paulo, os carros vão à pista em dois dias. Na sexta-feira, realizam um treino livre de 55 minutos. As equipes têm à disposição outros 55 minutos para uma nova atividade no sábado, antes do treino classificatório e da corrida, que acontecem no mesmo dia.

Esse formato beneficia a organização, montagem e desmontagem das estruturas nas grandes cidades que abrigam a Fórmula E. Prioritariamente desenvolvida em circuitos urbanos, a categoria de carros elétricos busca simplificar a organização das sedes das corridas, dada a necessidade de fechamentos de vias movimentadas para a delimitação do circuito onde os carros vão passar. Realizando as atividades em apenas dois dias, os efeitos no trânsito diminuem.

“Nosso grande desafio é trazer os maiores eventos do mundo para São Paulo. De fato, o número limitado de dias facilita a nossa logística e trabalho. Por exemplo, no fim de semana da Fórmula E acontece o Lollapalooza no Autódromo de Interlagos. Os grandes eventos acontecem em São Paulo porque atrai muita gente e atrai muita gente porque acontecem em São Paulo. E somos capazes de receber dois megaeventos no mesmo fim de semana. Com certeza, ser um dia só e não ocupar a Marginal Tietê torna muito mais fácil a nossa logística. A gente acredita que o impacto no trânsito seja muito pequeno”, afirma o diretor-presidente da SPTuris, Gustavo Pires ao Estadão.

Na África do Sul, o circuito montado na Cidade do Cabo usará o entorno do estádio em Green Point, que sediou oito partidas da Copa do Mundo de 2010. Algumas vias serão interditadas para a passagem dos carros elétricos. A pista tem 2,94 quilômetros de extensão. Por força de regulamento, os circuitos devem ter entre dois e três quilômetros.

Em São Paulo, cuja prova acontece no dia 25 de março, o Complexo do Anhembi será utilizado novamente, assim como na Fórmula Indy, entre 2010 e 2013. Há diferenças, no entanto. Os trechos da Marginal Tietê e da Praça Campo de Bagatelle não vão compor o circuito. A prova ficará restrita ao Complexo do Anhembi e à Avenida Olavo Fontoura, reduzindo dos 4,18 quilômetros para 2,96 quilômetros de extensão. Outra diferença será no sentido do circuito, que deixará de ser anti-horário.

DESTINOS

Depois de ter passado pela Cidade do México, Riad, Haiderabade, a Fórmula E ainda vai desembarcar em Berlim, Mônaco, Jacarta, Portland, Roma e Londres, onde se encerra a temporada, ainda no mês de julho.

“Nós vamos às maiores cidades do mundo, porque são essas as que estão mais preocupadas com a poluição e com os carros à combustão, que são o grande problema. Os carros elétricos são uma boa ferramenta para lutar contra as mudanças climáticas”, afirma Alberto Longo, cofundador da Fórmula E e diretor do campeonato.

“Aos poucos, os governantes observaram a profundidade do projeto da Fórmula E e entenderam que é uma plataforma esportiva que envia mensagens ao público em geral. As questões envolvendo mudanças climáticas e sustentabilidade muitas vezes se abrem e fecham em círculos limitados a profissionais da área. Nós, através da Fórmula E, estamos abrindo uma plataforma de comunicação com os cidadãos com mensagens esportivas por meio do esporte. Emissões de carbono, eletromobilidade, transição energética são ideias que queremos enviar. São temas que as cidades querem abraçar como políticas públicas”, completa Buenaventura.