As forças curdo-árabes apoiadas por Washington preparam no leste da Síria seu ataque final contra o que resta do “califado” do grupo Estado Islâmico (EI), onde centenas de combatentes jihadistas e suas famílias estão encurralados.

O grupo radical islâmico controla menos de 1% de seu “califado” autoproclamado que, no passado, se estendeu por grandes áreas entre a Síria e o Iraque, informou na quinta-feira a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, que combate o EI há mais de quatro anos junto a uma aliança curdo-árabe.

Após uma ascensão fulgurante em 2014, o EI viu seu território, anteriormente comparável à superfície da Grã-Bretanha, encolher a cada ofensiva inimiga. No Iraque, as autoridades proclamaram a vitória sobre o EI em dezembro de 2017.

Hoje, os jihadistas estão entrincheirados num último pequeno reduto no leste da Síria, na província de Deir Ezzor, onde são alvos de uma ofensiva das Forças Democráticas Sírias (FDS).

Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), centenas de famílias, parentes de jihadistas, mas também civis, também estão na área.

Este setor representa alguns quilômetros quadrados, perto da fronteira iraquiana. Um comandante das FDS explicou recentemente à AFP que os preparativos estavam em andamento para um “ataque final”.

“Nos últimos dias tem havido disparos de artilharia esporádicos e ataques aéreos esporádicos” da coalizão, informou o OSDH nesta sexta-feira.

– “Próxima semana” –

Mas as FDS suspendem seu avanço, temendo que os jihadistas usem os civis como “escudos humanos”. “Não houve avanço ou mudança significativa na frente de combate nos últimos cinco dias”, confirmou o porta-voz das FDS.

“Estamos avançando com muito cuidado, pela a segurança dos civis questão sendo usados pelo EI como escudos humanos”, disse ele.

Na quarta-feira, o presidente americano, Donald Trump, disse que a vitória contra os jihadistas era iminente.

“O anúncio formal de que recuperamos 100% do califado deve acontecer na próxima semana”, disse ele.

Mas “eles ainda têm pequenos bolsões (…) que serão cada vez menores”, mas que “podem ser perigosos”, reconheceu Trump.

Em dezembro, o republicano anunciou a retirada dos cerca de 2.000 soldados americanos mobilizados na Síria para apoiar as FDS.

Mais de 37.000 pessoas fugiram deste último reduto do EI desde o início de dezembro, principalmente famílias de combatentes, de acordo com o OSDH.

Centenas de pessoas, mulheres e crianças, chegaram nos últimos dias até posições das FDS, perto da linha de frente, segundo equipes da AFP.

Uma vez chegados, os homens suspeitos de serem jihadistas são interrogados e eventualmente presos. Mulheres e crianças são levadas para campos de deslocados mais ao norte.

Dos milhares que fugiram desde dezembro, cerca de 3.400 seriam jihadistas, segundo o OSDH.

– Jihadistas estrangeiros –

Como as FDS, a coalizão teme que combatentes da organização extremista escapem misturando-se ao fluxo de civis.

“À medida que pressionamos os combatentes restantes do EI (…) eles tentam escapar misturando-se às mulheres e crianças inocentes que estão tentando fugir dos combates”, ressaltou na quinta-feira a coalizão.

Centenas de estrangeiros, incluindo mulheres e crianças, estão agora nas mãos das FDS e reclamam sua repatriação para seus países de origem.

O destino dos jihadistas, incluindo estrangeiros, é uma questão sensível, principalmente desde que os Estados Unidos anunciaram a sua retirada da Síria e enquanto a Turquia ameaça lançar uma ofensiva contra as forças curdas.

Uma operação que poderia provocar um verdadeiro caos de segurança, do qual o EI poderia se beneficiar, alertaram as FDS.

As FDS são dominadas pela minoria curda, que estabeleceu uma autonomia de fato no nordeste do país e que agora tenta uma aproximação com o regime de Bashar al-Assad.

“Estamos caminhando para uma solução política, que exige um acordo com Damasco”, disse à AFP um funcionário do governo semi-autônomo curdo, Badran Jia Kurdi.

“Escolhemos a solução política com Damasco, porque não queremos o separatismo”, acrescentou.

Nesta sexta-feira, a ministra francesa de Defesa, Florence Parly, disse no Iraque que o EI “está a caminho de ser totalmente derrotado”.

Parly afirmou que “o trabalho ainda não está concluído” e apontou que “provavelmente o EI está tratando de se reorganizar de forma subterrânea e dispersa”.

A guerra que assola a Síria desde 2011 já fez mais de 360.000 mortos.