Dia muito triste para a democracia brasileira, especialmente para todos que tiveram a oportunidade de conviver com o estimado Bruno Covas. O Brasil necessita de quadros políticos jovens e preparados, mas perdeu um dos poucos com admiráveis qualidades.

Durante a campanha de 2016, participei da elaboração do programa de governo ao lado de queridos amigos e colegas de docência, apreciadores da social-democracia, e responsáveis por me apresentar ao então candidato a vice-prefeito.

Quando Bruno Covas assumiu a Prefeitura de São Paulo em 2018, tive a honra de ocupar a Chefia de Gabinete da Controladoria Geral do Município. Nessa função, estive ao seu lado em algumas oportunidades e posso atestar que certas virtudes, típicas de um democrata, sempre se destacavam: seriedade na análise dos fatos, preocupação com políticas sociais e com equilíbrio orçamentário, coragem na tomada de decisões, respeito para ouvir seus interlocutores e empenho para buscar consensos.

No início do governo, enfrentou problemas complexos, tais como a queda de um prédio próximo ao Largo do Paissandu e a greve dos caminhoneiros. Criou gabinetes de crise e enfrentou todos os desafios que se apresentaram. Aprovou a reforma da previdência dos servidores municipais e promoveu significativo saneamento das contas públicas do maior município do país.

No final de 2019, já com o diagnóstico de câncer, Bruno se manteve à frente da Prefeitura e jamais esmoreceu. Mostrou-se determinado e adotou comportamento exemplar, atestando que a doença não pode nos paralisar, sendo transparente quanto ao estado de sua saúde e ao tratamento pelo qual passava.

Nunca teve receio de demonstrar sua vocação política. Tinha orgulho de ser político, mesmo com a famigerada demonização da política que tomou conta de boa parte da sociedade brasileira, sobretudo a partir das manifestações de junho de 2013. Sempre soube que, na democracia, a política é o caminho para a solução e que ela pede preparo e dedicação.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Bruno era um jovem político que fazia a boa política. Não pregava essa divisão propagandística e vazia entre nova e velha política. Respeitava diferenças e valorizava a pluralidade de ideias. Não se pautava pelo discurso do ódio, mas sim pelo humanismo. Sabia que política é fazer o bem para quem mais precisa e não se omitia na tomada de decisões que lhe pareciam adequadas a essa finalidade. Reconhecia o debate como o principal instrumento da democracia, ciente de que a política é a arte do possível.

Mesmo acometido pelo câncer, tão logo iniciada a pandemia, passou a morar no gabinete na Prefeitura. Foi prefeito em tempo integral! Viveu o câncer e a covid, já que foi infectado e conseguiu derrotar o corona vírus. Foi criticado por medidas implementadas no combate à pandemia, mas nunca titubeou quando necessário recuar. Não tinha compromisso com o erro, nem reagia às críticas com o fígado. Sabia que, diante de um desafio sanitário sem precedentes, o que de pior pode existir é negar a ciência, encontrar guarida na omissão e tentar se capitalizar politicamente com o drama sanitário que atinge a todos nós.

Destemido, aceitou o desafio de concorrer à reeleição. Com otimismo, acreditou na medicina e na possibilidade de cura. Desde o primeiro momento, respeitou seus adversários, realizando uma campanha limpa e que valorizou a troca de ideias. Defendeu seu legado ao longo do período eleitoral. Foi eleito em 2º turno com larga maioria de votos.

Nesse mandato, tive a honra de ser nomeado Controlador Adjunto e posso atestar que Bruno Covas exerceu a prefeitura com responsabilidade e de forma democrática. Agiu diuturnamente com força, foco e fé!

Nesse duro percurso, passou pela quimioterapia, pela radioterapia e pela imunoterapia. Enquanto se sentiu apto a destinar suas energias ao ofício de prefeito, não hesitou em trabalhar, mesmo que de um quarto hospitalar. Sacrificou-se como poucos e, também por isso, seguirá como exemplo.
Nas últimas semanas, sentindo a estafa da árdua batalha contra o câncer, desgostoso por não poder destinar a energia que entendia necessária à Prefeitura, optou pela licença de 30 dias e pela internação.

Constatada a hemorragia gástrica, passou alguns dias na UTI. Melhorou e seguiu para a unidade semi-intensiva, de onde publicou fotos em redes sociais acompanhadas de textos motivadores e cheios de gratidão. Uma delas trazia o amado filho Tomás, fanático torcedor do Santos, que sempre esteve ao seu lado.

Na tarde de sexta-feira (14/05), boletim médico nos trouxe a triste notícia do agravamento do quadro clínico e da irreversibilidade da situação. A batalha se aproximava do fim, tendo o guerreiro Bruno Covas lutado o bom combate, servindo de exemplo a milhares de brasileiros que enfrentam inúmeras dificuldades.

Neste dia triste, quando nos deparamos com a passagem desse jovem, comprometido e promissor quadro político, resta-nos a certeza de que tivemos a oportunidade de conhecer um ser humano admirável. Um indivíduo que demonstrou determinação e destemor. Alguém que teve retidão na vida pública e que lutou para sobreviver com todas as suas forças, sem abandonar suas responsabilidades de homem público.

Ao fim e ao cabo, os passos de Bruno Covas nos fazem lembrar aqueles trilhados por seu saudoso avô Mário Covas. Ambos se reencontrarão e, de onde estiverem, contribuirão para que o Brasil consiga alcançar momentos mais prósperos, pois sempre serviram à causa pública.

Obrigado por seu exemplo, meu caro! Que Deus conforte familiares, amigos e admiradores. Descanse em paz, jovem líder e democrata Bruno Covas!


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias