O desmatamento e a mudança climática afetam os Gates ocidentais, a cadeia montanhosa indiana que é patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mas uma força florestal feminina luta para proteger um dos últimos enclaves de biodiversidade da região.
A área abriga ao menos 325 espécies ameaçadas de plantas, aves, anfíbios, répteis e peixes, e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classificou suas perspectivas como de “grande preocupação”.
Mas no Santuário Botânico Gurukula, 27 mulheres atuam como guardiãs de samambaias raras, de musgos que abraçam as árvores e de milhares de outras plantas que poderiam estar perdidas para sempre sem seu trabalho.
“Tentamos resgatar o que for possível, é como um acampamento de refugiados”, comentou Suprabah Seshan, uma das curadoras da reserva.
Também é como um hospital.
“A unidade de cuidados intensivos são os vasos de planta e, quando tiramos estes vasos, é como a enfermaria, onde recebem outras formas de cuidado primário de saúde”, acrescentou Seshan.
Ela calcula que mais de 90% das plantas da região desapareceram, uma situação que classifica como um “holocausto” ecológico.
Gurukula surgiu como um refúgio para a flora nativa que luta para sobreviver diante do aquecimento global e da invasão humana, com a esperança de repovoar a área com plantas nativas.
Gurukula, que significa “retiro com um guru”, foi criado há 50 anos pelo ambientalista alemão Wolfgang Theuerkauf, falecido há dez anos. Começou com algo em torno de três hectares de terreno que hoje se multiplicaram por dez.
Três gerações de “guardiãs da floresta chuvosa”, mulheres de aldeias locais no estado quente e úmido de Kerala, trabalharam com os botânicos para criar o santuário.
“Aqui temos entre 30% e 40% das Gates ocidentais sob proteção”, acrescentou Seshan.
E o trabalho é cada vez mais crucial.
Em 2012, a região foi reconhecida pela Unesco por sua diversidade biológica. Já a UICN alertou, em seu relatório “Perspectiva do Patrimônio Mundial”, sobre a ameaça pela crescente atividade humana e perda de habitat.
A organização apontou que “50 milhões de pessoas vivem na região das Gates ocidentais, o que gera pressões de uma magnitude maior do que em outras áreas protegidas do mundo”.
Seshan, que trabalha no santuário há 30 anos, acompanhou de perto a evolução dessa deterioração.
“Quando cheguei aqui, o plástico não fazia parte da nossa cultura. Lembro quando Wolfgang encontrou a primeira sacola plástica no rio e disse: ‘chegou a civilização'”, conta Seshan.