Não acho que crescemos na dor. Muito menos aceito enxergar benefícios onde há malefícios. Mas é fato que muitos de nós, tão bem-acostumados a bênçãos restritas a pouquíssimos seres humanos, deixamos de perceber tal fortuna. E mais: nos tornamos infantilmente frágeis e intolerantes a frustrações, por menores que sejam.

Não. Este não é um texto de autoajuda, ou muito menos a mais vaga intenção de aconselhar quem o lê. Não sou capaz de dar conselhos para o meu próprio espelho, afinal. É apenas uma mera reflexão – que sei passageira -, por conta de algo que acabei tendo conhecimento há pouco, e a vontade de escrever foi mais forte que a dor que senti.

Uma bebê, neta de uma personalidade internacional, foi diagnosticada com uma doença rara, que atinge uma a cada cem mil pessoas. Além das dificuldades motoras e tudo mais, a expectativa de vida é baixa. Muito baixa. Ao ler o relato, imaginei vagamente o que talvez se passe pela cabeça – e coração – dos familiares envolvidos em tal situação.

Há décadas, ouvi de um analista: “na vida, só há dois problemas: falta de saúde e falta de dinheiro para necessidades básicas a uma existência digna; o resto são falsos problemas”. Sim, eu sei que frases de efeito não produzem efeitos (reais), mas isso não nos impede de aceitar e concordar com a realidade que algumas delas nos impõem

A morte, ou doença de um filho, é inaceitável, emocionalmente falando, a qualquer pai e mãe; e avô e avó. Não dá para se conformar ou relativizar algo que, culturalmente – e primitivamente -, não estamos preparados (é verdade: certas culturas e/ou estratos sociais estão, ao menos aparentemente, senão preparados, mais resistentes. Ou resilientes).

Conheço, de perto, algumas famílias que convivem com eventos graves – alguns mais, outros menos -, envolvendo suas crianças, e posso assegurar: quem ama, cuida! Quem ama, não se importa! Quem ama, via de regra, até se esquece do fato! O amor é sempre tão incondicional, que incondicional será o cuidado e a missão de cuidar.

Porém, é fato, diante de, digamos, comparações, alguma forma de dor é inevitável. E alguma sensação de injustiça, creio, também. Se conhecesse pessoalmente a família, não conseguiria fazer nada nem falar nada, apenas, de alguma forma, sinalizaria: estou aqui. É tudo o que abençoados como eu podem fazer. Certas coisas não deveriam existir.