O impeachment de Jair Bolsonaro entrou na ordem do dia. Não é mais possível ignorar que o impedimento do presidente da República é condição indispensável para o país possa caminhar para a estabilidade política. Só assim o País conseguirá enfrentar as crises sanitária e econômica. Não será tarefa fácil, pois diferentemente de 1992 e 2016, desta vez a situação é muito mais complexa. Há a pandemia, uma tragédia humanitária que está impactando o Brasil. Ela também impossibilita as clássicas mobilizações de rua que estão intrinsecamente vinculadas aos movimentos pelo impeachment. E, tudo indica, passaremos todo o ano de 2021 ainda assolados pelo novo coronavírus. No campo econômico temos a combinação de uma dramática queda do PIB nacional, combinado com uma crise econômica internacional, o que não ocorreu tanto em 1992 e 2016. Naqueles anos tivemos recessão interna (-0,5% e -3,3%, respectivamente), mas a economia internacional estava em crescimento, algo próximo a 3%. O quadro atual é muito mais dramático e — não custa reafirmar — com o agravante da pandemia.

O presidente agiu como os nazistas que nunca esconderam a defesa do totalitarismo. Na verdade, ele quer aniquilar a Constituição de 1988

O extremismo bolsonarismo — uma combinação do velho reacionarismo brasileiro com ideias, ainda bem que vagas, fascistas e nazistas — são um fator distintivo em relação aos outros dois impeachments. Bolsonaro foi destruindo as conquistas democráticas da Constituição de 1988. Agiu como os nazistas que, na Alemanha, nunca esconderam a defesa do totalitarismo e foram crescendo eleitoralmente aproveitando-se da estrutura democrática edificada pela Constituição de Weimar para, ao chegar ao poder, destruí-la sem piedade. É o que está tentando, no Brasil. E, infelizmente, tem obtido êxito. Basta ver que todas as PMS estão insubordinadas e não atendem ao comando dos governadores: vitória de Bolsonaro. Conseguiu fomentar a indisciplina nas Forças Armadas jogando os jovens oficiais contra os generais legalistas. E mais: cooptou parte da oficialidade com cargos na máquina de Estado — são centenas — regiamente remunerados, além de ter armado milhares de apoiadores com a liberação irresponsável para a compra de armas e munições.

É um cenário explosivo. Deve ser somado, ainda, o fim do auxílio emergencial, o aumento do número de pobres e miseráveis, a fome que atinge, hoje, mais de 20 milhões de brasileiros, a disparada da taxa de desemprego, a quebradeira de micros e pequenos empresários. A recuperação em “V” não passou de mais uma miragem de Paulo Guedes. A hora de agir politicamente é agora, sob pena de uma convulsão social.