16/12/2021 - 19:01
Delvani Rosso é um dos 636 sobreviventes da tragédia da boate Kiss que aconteceu em 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria-RS deixando mais de 242 vítimas fatais. Seu depoimento foi um dos que mais impactou ao mostrar as sequelas. Ele teve 50% do corpo queimado e disse que ainda estava consciente quando pode ver sua pele sair na camisa que vestia ao ser socorrido.
Na sexta-feira, 10, a cidade de Santa Maria acompanhava em praça pública o resultado da sentença que condenou os então sócios da Kiss, Elissandro Callegaro Spohr (Kiko) a 22 anos e 6 meses, Mauro Londero Hoffmann, a 19 anos e 6 meses. O vocalista da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos, e do produtor musical Luciano Bonilha Leão, a 18 anos em regime fechado por homicídio com dolo eventual simples. Um habeas corpus preventivo, permitiu que o os réus respondessem em liberdade, o que gerou muita revolta. A procuradoria recorreu, o Ministro Fux deferiu e os réus foram presos durante a semana. A decisão é provisória e aguarda o desenrolar jurídico.
Flávio Silva, pai de vítima e presidente da AVTSM, afirma que “Se o Tribunal do Estado decidir que os réus devam aguardar o julgamento em liberdade a gente vai ver a possibilidade de derrubar essa decisão”.
Para Jader Marques, advogado de Elissandro, “O processo da boate Kiss é totalmente nulo por ilegalidades que aconteceram desde o sorteio de jurados ao curso do julgamento, passando pela votação e indo até a sentença”. Quanto à decisão do Ministro Fux, afirma que acredita que seja restabelecido o direito de liberdade dos réus.
A tentativa da defesa de tentar anular o julgamento é considerada absurda para Paulo Carvalho, é pai de vítima e um dos diretores da Associação. “Não respeitam a decisão soberana de um tribunal e não respeitam que esse tribunal condenou os réus por dolo. Foram crimes em que os réus assumiram o risco, que eles paguem. Precisamos dar um basta nesta impunidade”.
O debate sobre a qualificação do julgamento e efervescentes discussões inclusive nas redes sociais sobre a condenação dos réus por dolo eventual, tem atingindo aos pais “Estamos sendo julgados. Dizem que fizemos vingança e não justiça. É muito triste tudo isso. Nós ficamos sem nossos filhos e somos culpados.”, conta Denise Cabistani, mãe de vítima.
Marcelo Arigony, delegado que na época indiciou 28 pessoas para responderem pela tragédia na boate Kiss, lembra que “Havia indício de autoria, a materialidade comprovada e havia sim a possibilidade de ser dolo eventual ou que foi apontado pela polícia que fez os indiciamentos nesse sentido”. Pedro Barcellos, advogado da AVTSM diz que vão aguardar as apelações e que “O que tiver ao alcance nosso a gente vai tentar”.
O julgamento da tragédia da boate Kiss, aconteceu de 1 a 10 de dezembro em Porto Alegre-RS.
Ao todo, o caso tem mais de 19 mil páginas e é considerado tanto o maior quanto o mais longo da Justiça do Rio Grande do Sul. Ao todo, foram ouvidas 12 vítimas, 16 testemunhas e um informante. O retorno dos pais à Santa Maria teve aplausos, faixas e cerimônia organizada por voluntários e apoiadores.
DEPOIMENTOS À ISTOÉ
“Acredito que a justiça tenha dado uma resposta que tenha encerrado um ciclo mas que muita gente deveria estar respondendo não só os quatro, né? Tem muita coisa errada ainda. Eu saí de lá com o sentimento de dever cumprido. Consegui representar os pais, as vítimas e todo mundo que não teve a oportunidade de falar. Foi difícil reviver tudo. Me abalou. Veio à tona sentimentos que eu tinha posto uma pedra em cima e me vejo revivendo tudo. Parece que foi ontem que aconteceu. Eu fiquei bem fragilizado mas eu faria tudo de novo. “Só em ver a alegria dos pais em ter uma resposta da Justiça, já valeu a pena todo nervosismo que eu passei em Porto Alegre.”
Delvani Rosso, sobrevivente.
“Eu acho que foi feita justiça, sim. Também penso que faltou gente no banco dos réus. Mas independente disso, houve ganância, descaso e negligência. Meu filho gostava deles. Sempre falou bem, mas isso não significa que devemos esquecer o que aconteceu. Afinal 242 jovens morreram e mais de 600 ficaram feridos, muitos com sequelas graves. Eles traíram a confiança que depositaram neles. Se os extintores de incêndio estivessem funcionando, nada teria acontecido, de muito grave ou de grandes proporções. Estamos sendo julgados. Dizem que fizemos vingança e não justiça. É muito triste tudo isso. Nós ficamos sem nossos filhos e somos culpados.”
Denise de Mello Cabistani, mãe de vítima.
“A gente sabe que é uma liberdade provisória essa decisão até que sejam julgados os méritos das defesas aqui pelo Tribunal de Justiça do Estado, que talvez deva acontecer agora na quinta-feira. Se o Tribunal do Estado decidir que os réus devam aguardar o julgamento em liberdade a gente vai ver a possibilidade de derrubar essa decisão. ”
Flávio Silva, pai de vítima e presidente da AVTSM
“Os quatro já foram condenados, mas a contínua tentativa da defesa de anular o julgamento é um absurdo. Não respeitam a decisão soberana de um tribunal e não respeitam que esse tribunal condenou os réus por dolo. (…) Foram crimes em que os réus assumiram o risco, que eles paguem. Precisamos dar um basta nesta impunidade.”
Paulo Carvalho, pai de vítima e diretor da AVTSM.
“O processo da boate Kiss é totalmente nulo por ilegalidades que aconteceram desde o sorteio de jurados ao curso do julgamento, passando pela votação e indo até a sentença. Os erros gravíssimos estão todos registrados no processo e serão levados ao Tribunal de Justiça no recurso de apelação da defesa. Quanto à decisão do Ministro Fux, válida apenas para a suspensão da liminar, temos a expectativa de que será afastada na próxima quinta-feira, quando será julgado o mérito do Habeas Corpus, restabelecendo-se o direito de liberdade dos réus.”
Jader Marques, advogado de Elizandro Sphor
“O que a gente pode pensar é se deveríamos ter mais pessoas responsabilizadas, mas isso já havia sido balizado antes. (…) Em relação ao fato de ser dolo ou culpa ou mesmo absolvições, isso quem tem que dizer é o jurado. Nós dissemos desde o início quando fizemos o indiciamento por dolo eventual, porque o dolo eventual era uma das situações possíveis. Havia indício de autoria, a materialidade comprovada e havia sim a possibilidade de ser dolo eventual ou que foi apontado pela polícia que fez os indiciamentos nesse sentido.”
Marcelo Arigony, delegado responsável pelo indício de 28 pessoas responsáveis pela tragédia na época.
“O que tiver ao alcance nosso a gente vai tentar”.
Pedro Barcellos, advogado da AVTSM
POST NO FACEBOOK
Relato de Denise sobre aquela noite no facebook com mais de 5 mil compartilhamentos.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=4600175856731283&set=pb.100002167423911.-2207520000..&type=3
NOTA AVTSM
Um basta a esses que abusam de detalhes jurídicos para postergar e tentar anular julgamentos. Hoje podemos dizer que as capas publicadas dias após o incêndio da boate Kiss se tornaram verdadeiras.
O julgamento e a resposta do STF mostra essa nova fase de sermos um país decente e moral.
Um país não pode mais aceitar a impunidade que rouba vidas. Não aceita mais decisões imorais que prolongam o caminho da justiça de tal modo que acaba sendo injustiça.
Justiça, somente isso e nada além disso.
Que sendo feita traz o devido respeito à vida.
O bem maior de uma sociedade.