Haddad vem fazendo das tripas coração para apresentar ao País o melhor modelo de âncora fiscal possível, que equilibre as contas da União e elimine o déficit público até 2024, mas não tem recebido o apoio de parte significativa do governo, sobretudo da ala política do PT. Gleisi Hoffmann, presidente do partido, é uma das que puxam o coro contra a equipe econômica, com críticas públicas. Rui Costa, por sua vez, teme que o plano do ministro da Fazenda limite demais os gastos públicos e que isso possa afetar os programas que estão sendo estruturados na Casa Civil, como o PAC, a pedido de Lula. Essa queda de braço entre os dois grupos será agora arbitrada pelo presidente, outro que também não morre de amores pela contenção de gastos para os projetos sociais.

Brigas

As escaramuças entre as duas alas tiveram início logo nos primeiros dias de governo. Quando ocorreu a discussão sobre a reoneração dos combustíveis, os dois grupos racharam, inclusive com ataques em público. Gleisi chegou a dizer que a reoneração pretendida por Haddad era um estelionado eleitoral, deixando Lula furioso. Houve um meio termo.

Congresso

Alheios ao desentendimento, agentes do mercado e economistas de bom senso desejam que o arcabouço fiscal, a ser apresentado em breve ao Congresso, tenha chance real de ser aprovado pelos parlamentares. Afinal, todos esperam que as novas regras fiscais permitam ao BC reduzir gradualmente a taxa de juros e permitir a retomada do crescimento.

Cabo de guerra

Pedro Ladeira

Não convidem para a mesma mesa de jantar Rodrigo Pacheco e Arthur Lira. Estão em pé de guerra por causa das regras de tramitação de Medidas Provisórias (MPs) no Congresso. Lira quer que as leis sejam apreciadas primeiro na Câmara e Pacheco, no Senado. O Congresso parou e o caso foi judicializado. Preocupado com a letargia do Legislativo, Lula vai levar os dois na viagem à China para tentar o armistício.

Retrato falado

“O que preocupa é a sensação de que o arcabouço vai resolver tudo. Não vai” (Crédito:Ricardo Borges)

Armínio Fraga, ex-presidente do BC, disse em entrevista à “Folha” que a questão brasileira não se resume apenas ao governo apresentar o arcabouço fiscal, porque o que vai resolver mesmo é Haddad anunciar metas bem claras para o saldo primário e até mesmo os parâmetros de gastos para os próximos três anos. O economista disse ainda que “apesar de não estarmos diante de uma corrida bancária, temos uma situação macroeconômica muito frágil e com juros já muito altos”.

Tempo ruim

Ao verbalizar ataques ao BC por causa das altas taxas de juros, Lula se vacina contra as turbulências que a economia brasileira enfrentará em 2023. O próprio Ministério da Fazenda está prevendo que o PIB crescerá este ano 1,6%, abaixo do que o governo previa anteriormente (2,1%), embora os bancos estimem um crescimento pífio de 0,8%. E a desaceleração na economia está sendo evidente. O IBGE acaba de divulgar que a taxa de desemprego voltou a subir (de 7,9% para 8,4%), com 9 milhões de pessoas desempregadas. O cenário é ainda pior porque, com os juros em 13,75%, as empresas estão fechando vagas e mandando milhares de brasileiros para a informalidade.

Inflação alta

Economistas concordam, sobretudo os do BC, que a taxa Selic é muito elevada, mas entendem que não há o que fazer diante do atual quadro de descontrole fiscal e de inflação crescente. O IPCA medido pelo IBGE aponta que haverá um novo pico inflacionário, subindo de 4,6% para 5,31% em 2023 (a meta é de 3,25%).

Doria e Tarcísio

Divulgação

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, confirmou presença no Brazilian Investment Forum que acontecerá em Nova York, nos dias 9 e 10 de maio. Ele também comparecerá ao Lide Brazil Conference, em Londres, nos dias 20 e 21 de abril. Os dois grandes eventos são organizados pelo ex-governador João Doria (vice-chairman do grupo Lide).

Sintonia fina

Tarcísio apresentará, nas duas ocasiões, o potencial da economia paulista para investidores estrangeiros. Mais de 200 empresários brasileiros estarão presentes. A aproximação entre os dois governadores mostra sintonia de interesses, já que mesmo fora da política Doria segue atuando na iniciativa privada para promover a economia do Estado.

As voltas que a política dá

Ricardo Borges

Embora inimigos figadais, o empresário Paulo Marinho torce para que Flávio Bolsonaro (PL-RJ) mantenha seus planos de disputar a prefeitura do Rio no ano que vem, como já admite, e que seja eleito. Marinho é o primeiro suplente do filho 04 do ex-presidente e assumiria sua cadeira no Senado caso ele se elegesse prefeito. Flávio ainda teria dois anos de mandato no Salão Azul.

Toma lá dá cá

Eliziane Gama, senadora (PSD-MA), vice-presidente da comissão que investiga a crise Yanomami (Crédito:Divulgação)

Qual é o quadro hoje na terra indígena Yanomami?
Os Yanomamis vivem uma brutal crise humanitária, com aumento dos índices de malária, pneumonia, desnutrição e contaminação por mercúrio. E a principal causa disso é a expansão do garimpo ilegal, que recebeu apoio explícito do governo anterior.

O presidente da comissão, Chico Rodrigues (PSB-RR), foi à terra indígena sem o aval dos demais membros?
Foi uma visita sem legitimidade e uma afronta aos protocolos legais para adentrar a reserva.

Há o receio de que a comissão possa ser usada para proteger garimpos ilegais?
A comissão conduzirá um trabalho sério e preciso. Nossa missão é propor soluções para a tragédia social e ambiental nas terras indígenas.

Rápidas

* Alckmin voltará a despachar no gabinete de presidente a partir deste sábado, 25, quando Lula vai para a China. Como depois do périplo em território chinês o petista fará uma escala nos Emirados Árabes, o socialista vai ganhar uns dias a mais para curtir a Presidência.

* A relatoria do arcabouço fiscal na Câmara deveria ficar com Mendonça Filho, do União Brasil, mas depois que o partido de Bivar não fechou a federação com o PP, Ciro Nogueira exigiu que Lira nomeasse um dos seus.

* Lewandowski não esconde ser amigo de Lula (foi indicado por ele). Mas, a dois meses de deixar o STF, presta um favor ao petista. Com liminar permitindo a nomeação de políticos para empresas públicas, atropelou a Lei das Estatais.

* Depois que deu seis marretadas no símbolo da B3 para anunciar o vencedor da concessão do Rodoanel, o governador Tarcísio de Freitas passou a ser chamado de “Thorsício”. A imagem dele dando as marteladas viralizou.