O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou que o presidente da Argentina, Javier Milei, proteja os setores sociais mais pobres do país, enquanto avança com suas reformas econômicas ultraliberais e busca reduzir o déficit fiscal a zero.

“As medidas concretas adotadas para cumprir com a âncora fiscal devem ser calibradas para garantir que a assistência social continue sendo prestada e que o peso não recaia totalmente sobre os grupos mais pobres”, declarou a subdiretora do FMI, Gita Gopinath, em uma entrevista ao jornal La Nación publicada neste domingo, 25.

A Argentina mantém com o FMI um programa de crédito de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 219 bilhões) e a funcionária visitou o país na quinta e na sexta-feira (22 e 23) para avaliar seu progresso pessoalmente e se reunir com Milei e membros de seu governo, mas também com economistas, sindicalistas e representantes de organizações sociais que demandam mais ajuda estatal.

O governo enfrentou, nos dois meses e meio de gestão, uma desvalorização de 50% da moeda, a completa liberalização de preços, desregulamentações e cortes drásticos para alcançar o déficit fiscal zero ainda neste ano, como principal remédio para conter uma inflação de 254,2% e reverter uma pobreza de mais de 50%.

Gita Gopinath considerou “importante garantir que se mantenha o valor real das aposentadorias e da assistência social”. “Que as aposentadorias e a assistência social acompanhem o ritmo da inflação”, disse.

Ela opinou que “a economia herdada por este governo estava à beira de uma crise e exigia uma ação audaciosa e decisiva para afastá-la do precipício” e que já foram adotadas algumas medidas de alívio social, “mas serão necessárias mais, para garantir que a redução do déficit fiscal não recaia sobre os segmentos vulneráveis da sociedade”.

“Prevemos que a inflação possa cair para um dígito até meados deste ano”, disse a subdiretora do FMI, “mas acredito que levará pelo menos um ano para reduzir a inflação a níveis baixos e, em seguida, mantê-la nesses níveis até 2025 também exigirá esforços”, ponderou.

Para o FMI, “também será muito importante investir em capital humano”. “Este é um aspecto crítico. As taxas de pobreza infantil de mais de 55% são extremamente preocupantes. É o futuro do país. É importante garantir que essa porcentagem diminua muito e poder investir mais em educação”, diz o órgão.

Sobre os planos de Milei de dolarizar a economia para concluir suas reformas econômicas ultraliberais, Gopinath insistiu que “a decisão sobre que tipo de regime monetário um país terá é uma decisão soberana”.