O regime de câmbio flutuante tem funcionado há anos como um importante fator para absorver choques externos no Brasil, o que colaborou para a formação de reservas cambiais adequadas, observou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em relatório sobre o setor externo. Na avaliação do Fundo, as autoridades brasileiras devem manter “fortes amortecedores” para o caso de eventos globais desestabilizadores e atuar com “limitadas” intervenções na cotação do real ante o dólar a fim de enfrentar volatilidade excessiva do câmbio.

O documento divulgado nesta quarta-feira, 17, afirma que a posição externa do Brasil em 2018 estava amplamente em linha com o esperado para fundamentos macroeconômicos e “políticas desejadas” para o País no médio prazo. O FMI aponta que o déficit de transações correntes nacional é baixo, mesmo que o indicador tenha avançado como proporção do PIB (de 0,5% em 2017 para 0,8% no ano passado) devido à leve melhora da demanda agregada. Além disso, há um nível confortável de reservas internacionais, que atingiram US$ 375 bilhões em dezembro passado e atualmente estão próximas de US$ 386 bilhões, diz o Fundo.

A instituição destaca ainda que o País apresenta substancial fluxo de investimentos estrangeiros diretos, que dá conta de quase metade de todas as necessidades externas de financiamento do País e que cobre plenamente o déficit de transações correntes desde 2015. Por outro lado, o Fundo considera uma fonte de riscos a elevação do passivo internacional desde 2008 para uma marca próxima de 33% do PIB, o que também representa 265% do total das exportações.

O FMI pondera que existe uma tendência de aumento do déficit nacional de transações correntes, que gradualmente poderia até atingir 2% do PIB no médio prazo com a melhora das condições do nível de atividade, inclusive com o aumento da Formação Bruta de Capital Fixo e aquisição de equipamentos importados por companhias. “Esforços para elevar a poupança nacional são necessários para viabilizar uma expansão sustentável de investimentos”, destaca o Fundo.

Embora o relatório trate de questões externas, o FMI destaca que, no caso brasileiro, a consolidação fiscal, através de medidas como o teto de gastos federais e a reforma da Previdência, é importante para o fortalecimento da poupança das contas públicas. Por outro lado, o Fundo ressalta que a intervenção oficial na taxa de câmbio, incluindo o uso de derivativos, “pode ser apropriada para aliviar condições de mercado desordenadas.”

A instituição pontua que o Brasil continua a atrair capitais externos e que o diferencial de juros em relação a economias avançadas, adequadas reservas cambiais e reformas para ampliar a abertura comercial devem colaborar para a manutenção desse cenário. Contudo, o interesse de investidores no País pode minguar se questões estruturais não forem combatidas de forma apropriada, como a rigidez no Orçamento federal, no setor financeiro e no mercado de trabalho, diz o Fundo.

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Mundo

Em uma análise global, o FMI enfatiza que medidas protecionistas agravaram as tensões econômicas ao redor do mundo sem reverter desequilíbrios no balanço entre exportações e importações de vários países.

Em relação aos Estados Unidos, a instituição afirma que as sobretaxas adotadas para alumínio e aço importados da China e o aumento das tarifas sobre US$ 200 bilhões em bens importados chineses pouco atuaram para reduzir o grande déficit comercial americano com o país asiático. Em contrapartida, essas medidas provocaram um nível elevado de incertezas, o que culminou em “aguda desaceleração do comércio global e da produção industrial”, com repercussões negativas sobre investimentos e sentimento de empresários, sobretudo entre aqueles que atuam em cadeias internacionais de produção.

Na avaliação do Fundo, as consequências das disputas comerciais entre Washington e Pequim não se limitarão às duas maiores economias do planeta – os embates poderão diminuir o fluxo de capitais internacionais e afetar segmentos globais de manufaturados. Nesse sentido, o FMI adverte que tais tensões poderão provocar expressivas perdas de empregos em vários setores nos Estados Unidos e na China, além de prejudicar sistemas de fabricação de mercadorias no leste da Ásia, México e Canadá.


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