Com um atraso de cerca de meia hora, a 14.ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty começou com um clima ameno na noite da quarta-feira, 29: a mesa que reuniu os grandes nomes de Armando Freitas Filho e Walter Carvalho, mediada por Eucanaã Ferraz, se concentrou nas relações entre poesia e cinema, passou por Ana Cristina César e, em apenas um (esperado) momento, houve um rompante político.

Logo no início, questionado sobre o significado da poesia, Freitas Filho respondeu: “Poesia é algo que pode tocar em coisas horrorosas, como num Temer, por exemplo”, em referência ao presidente em exercício, para risos e aplausos da plateia.

Sobre a sua relação com Ana Cristina César – homenageada desta edição da Flip -, Freitas Filho falou sem entrar em detalhes ou fornecer insights sobre a obra da poeta, da qual ele é o principal propagador, desde 1983, ano da morte de Ana C.

“Conheci a Ana quando ela era uma menina de 20 anos”, contou. “Sou 12 anos mais velho. O que me impressionou foi a maneira intrigante como ela, usando esse termo em todos os sentidos, provocava, a falar, contar, ouvir. Ela ouvia muito. Isso era forte, até incômodo.” Ele lembrou com humor a convivência entre os dois, marcada por uma “profunda” amizade.

“A gente brigou muito. Tudo era um problema a ser resolvido. Por exemplo, verso livre, é livre mesmo? Dei um livro meu para ela botar vírgulas.”

“A Ana era uma poeta estranha”, disse. “Ninguém entendia muito bem o que era e o que não era. O livro (A Teus Pés) ficou na espera da Editora Brasiliense por seis meses. Ela puxava os cabelos. Caio Fernando Abreu foi quem fez o livro sair.” Freitas Filho também falou com humor sobre as conversas que teve com o curador da Flip, Paulo Werneck, para negociar sua ida a Paraty. “Essa é a minha primeira viagem em 20 anos”, disse. Para ele, o curador teve “inteligência e ousadia” ao escolher Ana C. como homenageada da Flip deste ano.

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Após a mesa, houve a exibição do bem humorado filme Manter a Linha da Cordilheira Sem o Desmaio da Planície, documentário de Walter Carvalho sobre Armando. “A origem do filme foi uma curiosidade sobre como vive um poeta”, disse Carvalho. “Vocês vão ao banco, ao supermercado? Como nasce um poema? Se eu pudesse, continuaria filmando o Armando.”


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