Flávio diz que contou a Bolsonaro sobre crise com Michelle: ‘Já me resolvi’

Senador entrou convergência com a ex-primeira-dama após Michelle criticar alianças do PL

Senador Flávio Bolsonaro em entrevista coletiva.

O senador Flávio Bolsonaro (PL) revelou que, durante visita ao pai na cela da Superintendência da Polícia Federal em Brasília nesta terça-feira, 2, contou a Jair Bolsonaro sobre o recente desentendimento com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, mas enfatizou que o conflito já foi superado.

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Nos últimos dias, Flávio, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) se uniram para enfileirar críticas à madrasta, que atacou publicamente uma aliança firmada pelo partido para apoiar Ciro Gomes (PSDB) ao governo do Ceará em 2026.

“Ele [Jair Bolsonaro] não consegue acompanhar muito porque, nesse cubículo de 12 metros quadrados até tem uma televisão, mas só consegue acompanhar a TV aberta. Então, eu expliquei para ele o que tinha acontecido, mas falei para ele que já me resolvi com a Michelle, pedi desculpas a ela, e ela também”, disse o senador a jornalistas.

“Isso não vai se repetir e a gente vai tomar decisões muito mais conscientes, ouvindo mais pessoas, e o presidente resolvendo no final. Assim, as chances de errar são menores”, completou.

A crise interna no PL levou o partido a convocar uma reunião de emergência para sob o comando do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

Na manhã desta terça, Michelle Bolsonaro usou as redes sociais para reforçar que não pretende apoiar Ciro Gomes ao governo do Ceará, mas disse respeitar as opiniões dos filhos do ex-presidente.

Entenda a divisão no clã Bolsonaro

A ex-primeira-dama disse no domingo, 30, em Fortaleza, que as lideranças locais da sigla “se precipitaram” na aproximação com Ciro e se opôs à aliança com um “homem que é contra o maior líder da direita”, em referência ao próprio marido. A declaração ocorreu no lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao Palácio da Abolição.

A fala de Michelle causou reação enérgica dos filhos de Bolsonaro, defensores da aliança. O primeiro a se manifestar foi Flávio, que disse ao jornal O Povo que a ex-primeira-dama “atropelou” seu pai, e defendeu “tapar o nariz” e apoiar o ex-ministro no pleito para garantir ao grupo uma vaga no Senado pelo estado.

Para o parlamentar, Michelle extrapolou sua prerrogativa ao opinar em uma candidatura majoritária e se dirigiu ao deputado André Fernandes, presidente do diretório cearense do PL, de forma “autoritária e constrangedora“.

Horas depois, Carlos foi ao X (antigo Twitter) para endossar o irmão e dizer que o grupo político precisa estar “unido” e respeitar a liderança do ex-presidente sem se deixar levar por “outras forças”.

Licenciado do mandato desde março, Eduardo se uniu ao coro e disse que a madrasta foi “injusta e desrespeitosa” com o correligionário. “Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder“, escreveu no X.

Como a IstoÉ contou nesta reportagem, o pragmatismo está por trás da aliança entre o bolsonarismo e Ciro, crítico conhecido do ex-presidente. Fortalecidas pela eleição para a prefeitura de Fortaleza — em que o próprio André foi derrotado por Evandro Leitão (PT) por uma margem de pouco mais de 10 mil votos –, as lideranças da oposição cearense se aproximaram com a pretensão de encerrar um ciclo de 12 anos de petismo no estado e o ex-presidenciável despontou como nome mais competitivo para isso.

Problema em família

O bolsonarismo enfrenta um cenário de indefinição desde que o ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão por uma tentativa de golpe de Estado, em setembro — ele passou a cumprir a pena no dia 25 de novembro, em regime fechado, na superintendência da Polícia Federal, em Brasília.

Com sua principal liderança fora do páreo, os filhos, a esposa e senadores e governadores aliados de Bolsonaro têm feito movimentos dissonantes em relação à estratégia para enfrentar o presidente Lula (PT) nas urnas em 2026. O vácuo decisório piorou a relação política entre Michelle e os enteados.