Foi num avião lotado, a caminho de Madri, que as conheci. Iriam participar do South Summit — um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo. Ao meu lado, Beatriz e Juliette discutiam o programa do Summit. Falavam em inglês com um passageiro espanhol.

Elas manejavam os conceitos técnicos e a dimensão estratégica do negócio com uma maestria considerável. Ambas mulheres com menos de 30 anos. Flagro o momento e me meto na conversa. Uma é brasileira e a outra, portuguesa. Vivem em Lisboa, onde se conheceram e criaram uma empresa. São as donas de um negócio inovador que apenas está começando, mas tem uma margem de progressão gigante. Beatriz e Juliette coincidem no sucesso do presente e na visão do futuro.

Beatriz, carioca, se mudou para Portugal fugindo da violência do Rio de Janeiro. Vendeu uma cobertura no Leblon que herdou dos avós e, com o dinheiro, comprou uma casa no centro de Lisboa. Com a grana que sobrou, investiu numa ideia inovadora que já trazia do Brasil e que Juliette adotou como sua. Ficaram sócias. Juliette, portuguesa, é uma especialista em planejamento de negócios que ajuda mulheres empreendedoras a conseguir sucesso em um mundo ainda dominado pelos homens.

Uma carioca e uma portuguesa sintetizam o que há de melhor em inovação nos negócios tecnológicos na Europa. Há incentivos de sobra para quem é competente

Uma tinha a grana e a ideia, outra, a cultura local e o conhecimento da Europa. As duas criaram uma startup. Ganharam um prêmio para mulheres empreendedoras em Portugal e se candidataram a financiamento internacional. O plano deu certo e elas estão apresentando o negócio para investidores que vêm do mundo todo para o evento de Madri. Em novembro elas pretendem participar da Web Summit, em Lisboa.

A capital portuguesa é hoje uma plataforma giratória de dinheiro e talento. Gente de todo o mundo está se mudando para lá. As autoridades portuguesas criaram uma série de incentivos que hoje tornam o país um dos locais mais procurados por empreendedores estrangeiros. Com dez anos de isenção de impostos a quem domicilie seus rendimentos em Portugal, facilidade na obtenção de “visas dourados”, leis que garantem direito à nacionalidade a todos os netos de portugueses e — muito importante — acesso a uma gigantesca quantidade de dinheiro para investimentos que a Europa disponibiliza para Portugal e que, muitas vezes, os lusos não conseguem “gastar” por falta de capacidade financeira.

Juliette e Beatriz são uma metáfora perfeita para o que hoje une Portugal e Brasil. Do lado brasileiro, a capacidade financeira e a escala, do lado português, a posição estratégica e o know-how europeu. Essa simbiose perfeita é um flagra total.