A agência de classificação de risco Fitch anunciou nesta quarta-feira, 26, a elevação do rating soberano do Brasil, de BB- para BB, com perspectiva estável. A mudança coloca o País dois degraus abaixo do cobiçado grau de investimento da agência – perdido em 2015, durante o governo Dilma Rousseff. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a revisão da nota pela agência, mas disse que, pelo tamanho do Brasil, não “tem cabimento o País não ter grau de investimento”.

Segundo a Fitch, a mudança reflete “um desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado”, em meio a “choques sucessivos em anos recentes”, com políticas proativas e reformas que têm dado suporte a essa melhora de performance. A agência citou a expectativa de que o governo siga trabalhando por mais melhorias na economia, com novas reformas para fazer frente aos “desafios econômicos e fiscais”.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o codiretor de ratings soberanos para as Américas da Fitch, Todd Martinez, disse que, “neste momento”, não vê “necessariamente o Brasil claramente em uma trajetória para recuperar o grau de investimento”. “Mas reconhecemos que a agenda do governo Lula está focada precisamente nos pontos que podem levar a um rating mais alto.”

Como a perspectiva da nota do Brasil é estável, explicou ele, não estão previstos novos movimentos por parte da agência nos próximos 12 meses. Também não está na visão da agência um rebaixamento em termos de perspectiva.

Em comunicado, a Fitch ressaltou que, apesar de o novo governo se distanciar da agenda liberal de administrações anteriores, espera “pragmatismo” e que freios e contrapesos institucionais impeçam desvios “radicais” nas frentes macro e microeconômica. Para a agência, as novas regras fiscais e medidas tributárias em negociação no Congresso devem ancorar uma “consolidação gradual”.

O rating (ou nota de crédito) é o resultado da avaliação feita por uma agência de classificação de risco sobre a qualidade de um título de dívida emitido por uma empresa ou país. Ele indica, portanto, se o emissor é um bom ou mau pagador e quais as chances de acontecer um calote daquela dívida. Já o grau de investimento é o selo dado aos bons pagadores, que são considerados de baixo risco para os investidores. No caso da Fitch, a nova nota ainda indica um nível especulativo.

Juros

O movimento da Fitch – que ocorre pouco mais de um mês depois de a Standard & Poor’s ter mudado a perspectiva para a nota do Brasil de estável para positivo – deve aumentar as pressões para que o Comitê de Política Monetária do Banco Central comece a reduzir a taxa básica de juros já na sua reunião da próxima semana.

No mercado financeiro, o reflexo da mudança aconteceu principalmente no câmbio. O dólar recuou 0,46%, vendido a R$ 4,72. É o menor patamar desde 20 de abril de 2022. Analistas destacaram que o novo rating pode abrir caminho para novos investimentos estrangeiros no País, reduzindo a cotação da moeda americana. Já a Bolsa de Valores fechou em alta de 0,45%. Mesmo com o anúncio da Fitch, os investidores mantiveram a cautela à espera da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que voltou a aumentar a taxa de referência para os juros no país.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.