Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) encontraram pela primeira vez no Brasil exemplares do Aedes aegypti naturalmente infectados com o zika – uma “identificação inédita”, que reforça que esse mosquito é a principal via de transmissão do vírus no país, segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira.

O estudo foi realizado com mosquitos coletados em três bairros da cidade do Rio de Janeiro com casos notificados de zika.

Durante 10 meses, os pesquisadores examinaram 1.500 mosquitos de diversas espécies, e encontraram a presença do vírus em três conjuntos de Aedes aegypti. Entre os mosquitos capturados, nenhuma outra espécie estava infectada.

Até o momento, só se conhecia um grupo de mosquitos “naturalmente infectados” pelo zika vírus em todo o continente americano, o Aedes albopictus, segundo uma publicação recente do Ministério da Saúde do México.

O chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, Ricardo Lourenço, líder do estudo, explicou que para determinar que a transmissão de uma doença é feita por um tipo de inseto, é necessário identificar primeiro o aparecimento desta espécie naturalmente infectada sobre o terreno e depois provar que esse vetor é capaz de transmitir o vírus.

“Nosso Laboratório constatou cientificamente essas duas questões, que são fundamentais para se compreender a transmissão do vírus, estimar o risco de propagação da doença e orientar as ações de controle”, disse o pesquisador.

Para Ricardo Lourenço, fatores como o comportamento, a distribuição e a densidade populacional do Aedes nas regiões brasileiras podem ter contribuído para a rápida propagação do Zika.

Cientistas suspeitam que o vírus está estreitamente relacionado com os 1.384 bebês que nasceram com microcefalia e os 59 que morreram devido a esta malformação congênita no país, segundo o último boletim do Ministério da Saúde.

Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que um possível vínculo entre o vírus zika e o surto de casos de microcefalia deveria ser estudada, já que representa uma “emergência de saúde pública de alcance internacional”.

Nesta segunda-feira, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, afirmou que a epidemia de zika na América Latina é resultado do abandono das políticas de combate aos mosquitos dos anos 70 e da falta de acesso a serviços de planejamento familiar no continente.

A Fiocruz desenvolve atualmente uma vacina contra o vírus, que também pode causar problemas neurológicos como a síndrome de Guillain-Barré, que provoca paralisia e pode levar à morte do paciente.

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