A popularização das plataformas de nuvem trouxe mais elasticidade e flexibilidade para empresas que precisam expandir suas estruturas de tecnologia. Mas muitas delas acabam tendo uma surpresa desagradável quando chega o boleto. Recente estudo da Flexera aponta que a gestão de custos é a maior preocupação dos gestores de TI em relação à infraestrutura de nuvem.

“Muitas empresas caíram no conto de ‘vá para a nuvem que você vai gastar menos’. Afinal, não seriam mais necessários data centers, despesas com equipe técnica, energia de ar condicionado, licenças etc. Mas isso acaba sendo um erro. Pois, dependendo de como a migração para a nuvem é feita, o custo pode acabar sendo maior do que os valores de antes de migração”, diz Otavio Argenton, diretor para o Brasil da SoftwareOne, empresa que fornece soluções para gestão de custos de nuvem.

Argenton, da SoftwareOne: gestão de custos de cloud é desafio para empresas (Crédito:Divulgação)

Argenton observa que, em muitos casos, empresas contratam mais recursos do que necessitam. “Isso ocorre muito em migrações do tipo lift and shift, nas quais a área de TI simplesmente pega aplicações que já rodam em data centers próprios e ‘joga’ na nuvem com pouca ou nenhuma adaptação. Esse tipo de migração não explora os recursos das plataformas de cloud e pode gerar gastos bem maiores do que seriam realmente necessários para rodar as aplicações com eficiência”, detalha.

FinOps ao resgate

É neste contexto que ganham força no mercado os profissionais de FinOps. Esta área – responsável por gerir e dar mais visibilidade aos gastos com plataformas de nuvem – começou a surgir em grandes empresas há cerca de três anos e continua em expansão. “A principal missão da área de FinOps é dar visibilidade aos custos. Isso envolve mostrar para outras áreas da empresa o que está sendo gasto, como está sendo gasto, e identificar oportunidades de melhoria”, explica Claudia Seffrin, head de plataforma da Pier Cloud, empresa de consultoria que atua em gestão de custos de plataformas de nuvem. Antes de trabalhar na Pier Cloud, Claudia atuou na área de FinOps do Grupo Boticário e atualmente também participa da comunidade brasileira da FinOps Foundation.

Claudia, da Pier Cloud: visibilidade de gastos é ponto central de FinOps (Crédito:Divulgação)

Com formação na área de finanças, Claudia migrou para a área de TI em 2020 e acompanhou o surgimento das áreas de FinOps desde o início. “No começo estas áreas eram simplesmente chamadas de ‘controles de custos’. Com o crescimento da nuvem começaram a aparecer times mais especializados, e o termo FinOps começou a ser usado por empresas dos EUA e da Europa”, observa.

Não é só corte

Uma visão unânime entre profissionais de FinOps é que a área não deve ser vista apenas como uma forma de cortar custos. “FinOps é sobre como usar a verba aplicada em nuvem da melhor forma, e não apenas sobre cortar custos. Sempre haverá uma solução mais barata, mas ela é a melhor solução? É este tipo de pergunta que a área de FinOps pode ajudar a responder”, afirma Thais Minelvino, coordenadora de Cloud, FinOps e Integration na Gerdau.

Thais, da Gerdau: cultura de FinOps deve estar em todos os setores da empresa (Crédito:Divulgação)

Com mais de 20 anos de experiência na área de TI, ela ressalta que outra função da área de FinOps é espalhar para outros departamentos a importância da gestão de custos com aplicações em nuvem. “Em uma empresa do porte da Gerdau, com muitas áreas e departamentos em várias instalações, um só time de FinOps não consegue dar conta de todas as demandas relacionadas ao uso de nuvem. Por isso é importante que outros departamentos tenham essa cultura. Para nós é uma vitória quando vemos que uma determinada área já tem maturidade para gerenciar seus gastos dentro da metodologia de FinOps”, diz.

Mercado em alta

Para profissionais que desejam migrar para a área de FinOps, a porta de entrada é obter a certificação da FinOps Foundation. A fundação fornece materiais, organiza eventos e outras atividades para disseminar as boas práticas de FinOps. “A certificação da FinOps Foundation tem a vantagem de ser ‘neutra’, pois todos os grandes provedores de nuvem são filiados à fundação”, diz Thais.

Diretor de comunidades da FinOps Foundation para América Latina, Rodolfo Silva dá outra dica para quem quer migrar para a área: o networking. “Além das certificações da FinOps Foundation e dos principais provedores de nuvem, é importante participar de eventos, sejam online ou presenciais, e trocar experiências com outras pessoas da área. A área de FinOps é muito nova. É grande a chance de uma vaga que abre não ser preenchida por pessoas da própria empresa, já que pouca gente conhece do assunto. Assim, ter conexões que já estão no mercado pode ser fundamental para entrar neste mercado”, diz.

Rodolfo, da FinOps Foundation: networking é fundamental para profissionais de FinOps (Crédito:Divulgação)

Rodolfo enfatiza ainda que a área de FinOps absorve profissionais de diferentes áreas. “No fim das contas, FinOps é para todo mundo, desde que tenha algum conhecimento básico de cloud ou finanças e queira mergulhar na área. FinOps é sobre cultura, sobre entender as melhores práticas de gestão de gastos de cloud e apresentar de forma clara para outras áreas”, observa.

O papel dos fornecedores

Do outro lado do balcão, os grandes provedores de nuvem também têm iniciativas para ajudar os clientes a controlarem melhor seus gastos com cloud, como explica Fábio Filho, líder de Treinamento e Certificação na AWS. “Temos clientes em diferentes pontos em suas jornadas de nuvem. Alguns já estão conosco há um bom tempo, e outros estão iniciando esse processo de migração. Em ambos os casos, atuamos para ajudá-los a ter mais visibilidade dos gastos com nuvem e aproveitar melhor a elasticidade da plataforma”, diz.

Fabio, da AWS: apoio a clientes com treinamentos de FinOps (Crédito:Divulgação)

Uma das oportunidades para economizar, segundo Fábio, é usar os recursos de processamento sob demanda. “O cliente pode reservar uma instância de processamento, para ter acesso a mais capacidade de processar dados apenas durante um intervalo de tempo. É uma forma de atender a picos de demanda sem ter que pagar por aquela estrutura mais robusta o tempo inteiro”, observa.

Como forma de apoio aos clientes, a AWS tem uma série de cursos e ferramentas para aprimorar a gestão de gastos. “Dentro da plataforma temos cursos de otimização de gastos, incluindo alguns voltados para FinOps. Internamente, também promovemos encontros com nossos clientes para compartilhar experiências e casos de uso sobre gestão correta dos gastos”, detalha Fábio.

FinOps também é sustentabilidade

Uma tendência já identificada na área de FinOps é a integração cada vez maior de questões relacionadas a ESG no dia a dia. Pesquisa recente da FinOps Foundation indica que as equipes de sustentabilidade das grandes empresas terão cada vez mais influência na forma como as companhias gerenciam seus recursos em ambientes de nuvem.

“A comunidade de profissionais de FinOps mostrou mais interesse em temas de sustentabilidade no ano passado, estimulada pelas informações de sustentabilidade mais detalhadas fornecidas pelos grandes players de nuvem (AWS, Microsoft, Google, Oracle e outros). Também pesou a regulamentação cada vez mais detalhada sobre o tema imposta por vários países”, apontou o estudo.

Argenton, da SoftwareOne, observa que as ferramentas de gestão de cloud já fornecem recursos para acompanhar dados de sustentabilidade. “Quando você faz a gestão de recursos da nuvem correta, simultaneamente você já consegue acompanhar a consequência disso na questão ambiental, por meio de calculadoras de emissão de carbono”, observa.