Golpe da fruta, golpe da mortadela, golpe do bacalhau. Fazer compras no Mercado Municipal de São Paulo, o Mercadão, virou uma atividade de risco. Uma rápida distração pode ser suficiente para um comerciante empurrar um produto por um preço absurdo, normalmente uma fruta exótica, ou vender com sobrepeso, lesando o consumidor. Desde que virou uma atração turística, o Mercadão perdeu seu ar provinciano e se tornou um lugar perigoso, onde qualquer vacilo pode virar um prejuízo. Já não se atendem mais apenas clientes tradicionais que visitam certas barracas regularmente, como acontecia no passado, atrás de alguma especialidade. Agora, dominam os frequentadores eventuais e alguns vendedores aproveitam a oportunidade para tirar o máximo de dinheiro dos incautos, que desfrutam de um passeio de fim de semana. Implantou-se principalmente no corredor central, onde há dezenas de barracas de frutas, um esquema selvagem que oprime os visitantes que passam por ali.

Não é de hoje que o golpe prospera. Há pelo menos cinco anos, vendedores agressivos tentam empurrar, por um preço astronômico, produtos como a pitaya colombiana e ou a fruta asiática rambutan para qualquer visitante que cruze o corredor central. Construído em 1933 em cima do que era o antigo Mercado dos Caipiras, um entreposto repleto de barracas que atendia os moradores da cidade no século 19, com oferta de hortifrutigranjeiros e outros produtos frescos, o Mercadão passou pela sua maior reforma em 2004, quando ganhou um mezanino de dois mil metros quadrados que hoje abriga oito restaurantes e virou uma praça gourmet. Desde então, se a infra-estrutura melhorou, o atendimento veio perdendo em cordialidade e respeito ao cliente. E se tornou mais difícil fazer bons negócios por ali, como comprar um queijo mineiro por um preço mais baixo do que no supermercado.

Oportunistas existem em todo lugar e em qualquer ambiente comercial. A questão é evitar que eles ajam livremente e dominem o cenário de maneira avassaladora, como começou a acontecer no mercado paulistano. De uma hora para outra, um dos maiores símbolos da cidade ganhou uma imagem de barbárie, onde não se fazem negócios com lisura e se aplicam trambiques. Certamente é injusto com a maioria dos comerciantes locais, mas a maioria honesta precisa impedir a ação dos malandros. Bancas que praticam o golpe da fruta foram fechadas e vários vendedores foram multados por práticas irregulares. Pode ser o começo de uma mudança que moralize de vez o Mercadão e volte a deixá-lo um local acolhedor para os consumidores, como nos velhos tempos.