Há poucos temas mais estimulantes para a ficção científica que a inteligência artificial. 2001 – uma Odisseia no Espaço e Eu, Robô são exemplos que vêm à mente. Blade Runner – o Caçador de Androides é outro. São variantes da mesma pergunta: pode a criatura superar o criador e voltar-se contra ele? Essa ideia, quase inútil dizer, tem ressonâncias tanto científicas como religiosas.

Adaptado para o cinema por Ridley Scott a partir de uma novela de Philip K. Dick (Do Androids Dream of Electric Sheep?) Blade Runner não foi um extraordinário sucesso de bilheteria nem de crítica logo de cara. Transformou-se em cult, e clássico da sci-fi, em especial a partir do lançamento das versões do diretor (director’s cut) em VHS e depois em DVD. Nessas, Scott livra-se de concessões comerciais que enfraqueciam seu filme, em especial o desfecho, um happy end imposto pela produção. Fazendo a obra voltar ao leito inquieto em que havia sido concebida, devolvia seu gume crítico e senso de mistério.

O final tornou-se perturbador – teria o espectador sido enganado até aquele momento a respeito da verdadeira identidade do caçador de androides Rick Deckard (Harrison Ford)? Quais são as astúcias envolvidas na manipulação da inteligência artificial? Seríamos todos marionetes, cujos movimentos dependem de algum demiurgo imperceptível?

Já se vê que, além de tudo, Blane Runner vincula-se a uma meditação sobre a política e nada tem de datado. Talvez nem de futurístico. A opacidade do poder é outro tema permanente, e não apenas da ficção científica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.