13/11/2024 - 16:07
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Fim da Escala 6×1, que propõe a substituição da jornada de trabalho estabelecida pela Constituição, de 44 horas semanais distribuídas em até seis dias, por 36 horas semanais divididas em quatro dias alcançou nesta quarta-feira, 13, as assinaturas exigidas para tramitação na Câmara dos Deputados.
O grupo de 194 signatários reúne parlamentares distantes dos partidos de esquerda, tradicionalmente ligados às causas trabalhistas; na mobilização digital pela PEC, há usuários e figuras públicas que também não habitam esse espectro. Neste texto, o site IstoÉ relata como o projeto furou a chamada “bolha” que se engaja em pautas do tipo.
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A bolha
O diagnóstico de que os partidos e lideranças da esquerda, tradicionalmente mais populares entre empregados do que empregadores, perderam a simpatia de parte desse segmento partiu dos próprios representantes do campo e do histórico de votações das últimas eleições.
Em carta publicada antes do segundo turno da disputa pela prefeitura de São Paulo, em que foi derrotado, Guilherme Boulos (PSOL) disse que seu campo “deixou de falar com tanta gente que batalha, sofre o dia a dia das periferias e buscou encontrar sua própria forma de ganhar a vida” em referência a pequenos e empreendedores e categorias informais, como motoristas de aplicativo.
Na capital paulista, o candidato apoiado pelo presidente Lula (PT) perdeu para Ricardo Nunes (MDB) em bairros historicamente ligados ao petismo e majoritariamente habitados não por empresários, mas por trabalhadores — sejam eles formais ou não. O deputado Jilmar Tatto (PT-SP) foi outro a reconhecer a perda de terreno nas periferias e sugerir que as lideranças do espectro voltem a atuar nas “organizações sociais”.
Em entrevista ao site IstoÉ após se eleger vereador pelo Rio de Janeiro, o fundador do VAT (Vida Além do Trabalho), movimento em que nasceu a petição pelo fim da escala 6×1 que gerou o texto da PEC, Rick Azevedo (PSOL), afirmou que os partidos de esquerda precisam “renovar seu olhar sobre as relações de trabalho” e atuar “em sintonia com a realidade de quem vive jornadas imprevisíveis e condições instáveis”.
O passo além
Dias após o diagnóstico que sucedeu o desempenho ruim do espectro nas eleições municipais, a petição elaborada pelo VAT foi apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) e abriu caminho para uma intensa pressão sobre os parlamentares nas redes sociais — inicialmente, da base do governo federal; depois, mesmo das fileiras da oposição.
Sem adesão formal do governo ou das principais lideranças do campo, a esquerda voltou a assumir para si o protagonismo de uma pauta ligada à força de trabalho. Mas a discussão ganhou força justamente pelo alcance além do próprio setor ideológico.
Nas redes sociais, figuras públicas habitualmente alheias às discussões políticas, como o influenciador Carlinhos Maia e o cantor Mc Binn, se manifestaram favoravelmente à redução da jornada semanal de trabalho. Nos perfis de lideranças da direita radical, como Nikolas Ferreira (PL-MG), usuários autodeclarados conservadores cobraram adesão à PEC, sob argumentos como a possibilidade de passar mais tempo com a família.
Em entrevista ao site IstoÉ, o deputado Fernando Rodolfo (PL-PE), único parlamentar do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro a endossar a tramitação da proposta, disse que a redução da jornada de trabalho é uma demanda que está “acima de divergências ideológicas” e os representantes da direita que virarem as costas para ela estarão “ignorando o próprio eleitor”.
No Senado, o bolsonarista Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) subiu ao plenário para dizer que a discussão “não é ideológica” e quem se opõe à redução da jornada “não tem empatia pelo próximo ou não faz a escala 6×1”.
Nunca pensei que o Senador Cleitinho falaria coisas assim pqp…
Deu uma aula de consciência social, principalmente pro seu amigo Chupetinha pic.twitter.com/XMg2m9AV8b
— Caio Warriors (@caio_1946) November 13, 2024
Na esteira da mobilização, a adesão se dilatou. Entre os signatários atuais, estão o pastor evangélico e ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), o ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) Coronel Ulysses (União-AC) e o influenciador e palestrante motivacional Douglas Viegas (União-SP), o “Ninja”. Além da assinatura, um ponto une os três: a distância da esquerda.