“Livros Restantes”, longa da diretora Marcia Paraiso estrelado por Denise Fraga e Augusto Madeira, mergulha na profundidade de como relações que estavam adormecidas há anos podem ser muito mais fortes do que alguns laços rotineiros.
Com estreia marcada para 11 de dezembro, a produção acompanha Ana Catarina, uma mulher 50+ prestes a se mudar para outro país. Em sua jornada de despedida de antigas memórias, a professora entra em contato com 5 pessoas que já fizeram, ou ainda fazem, parte de sua vida para devolver cinco livros.
O que pode parecer melancólico a primeira vista, se mostra, na verdade, o poder de uma pessoa que sabe seguir em frente.
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Em entrevista à IstoÉ Gente, os astros Denise Fraga e Augusto Madeira, acompanhados de Marcia Paraiso, falaram sobre a temática do longa em abordar dores do passado para construir um recomeço e a dificuldade masculina em amadurecer.
“A melancolia está muito presente nesse remexer da memória”, explica a diretora. “Especialmente quando já se é mais velho, que chega numa etapa da sua vida que você trata a memória de uma outra forma.”
“Ela ganha uma outra importância, até porque tem coisas que você começa a esquecer e outras que você não quer esquecer. A gente comete muitos equívocos quando não queremos nos conflitar com nós mesmos.”
“O filme é muito bonito”, elogia a atriz. “Eu fico sempre muito impressionada em como o espectador nos reconta a história que a gente está contando. Essa pessoa [personagem principal] está se desfazendo da sua casa, dos livros com as dedicatórias… Essa mulher está em estado de suspensão. Ela está inventariando-se, no que ela vai ser a partir de agora.”
“O futuro ainda é uma coisa desconhecida. Ela mesma se propôs a isso e está completamente corajosa de si para essa nova empreitada da vida. Mas, ao mesmo tempo, tem um monte de coisa que ela carrega e que está revisitando. Esse estado cria na gente uma vontade de chorar, ela está levando aquele lugar”, diz.

Denise Fraga em “Livros Restantes” – Divulgação
Na produção, Ana Catarina possui uma relação um tanto conturbada com o ex-marido, Carlos (Augusto Madeira), personagem que é marcado por uma profunda “infantilidade” e “falta de maturidade”. Esse comportamento, inclusive, chega a afetar sua relação com a filha – fruto do ex-relacionamento com a professora -, em um reflexo batente fiel da realidade.
Fora das telonas, o ator também é pai, e reconhece que seu papel representa uma pessoa muito confortável com sua vida e nem um pouco disposto a mudar. “Sinto que o homem tem uma dificuldade maior de amadurecer. Falo isso como um homem de 55 anos, branco, que foi criado de um jeito e que tenho que me reconstruir o tempo inteiro.”
“O Carlos Henrique não teve essa oportunidade. Ele era um cara muito ensimesmado ali dentro do mundo acadêmico, com suas viagens, doutorados, e maconha. Ele é muito egoísta de não conseguir enxergar a própria infantilidade e falta de maturidade”, reflete.
Um local desconhecido
Em um mundo altamente conectado, onde a ideia de recomeçar do zero e abandonar o passado parece cada vez mais difícil , o elenco ainda comentou sobre o desejo de criar uma identidade completamente nova.
“Eu já criei uma identidade nova para mim, eu já experimentei isso, não sendo atriz, na vida real, de fato, quando eu era jovem, bem jovem, um tempo que não existia celular, que ninguém ficava te perseguindo”, conta Marcia. “Eu fiz uma viagem de ônibus, saí do Rio de Janeiro, até lá em cima, Maranhão, indo e descendo, tudo de ônibus, sozinha”, diz.
“E cada lugar que eu chegava, eu dizia que eu tinha um nome diferente, inventava uma identidade nova para mim. Hoje já não poderia, né? Hoje é mais difícil. Mas em 1989, não era.”
“A gente é ator, né? E ator… Eu acho que eu sempre falei isso. ‘Você vai ser ator porque você acha que uma vida só não basta, porque você quer ser muitos’. A gente tem essa felicidade, a nossa profissão é viver emprestado”, finaliza Denise.
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*estagiária sob supervisão