SÃO PAULO, 24 JUN (ANSA) – O novo filme do diretor italiano Marco Bellocchio sobre a história real de um menino judeu sequestrado pelas autoridades papais para se tornar padre no Vaticano estreará nos cinemas do Brasil no próximo dia 11 de julho.   

A produção “O Sequestro do Papa” foi indicada em 11 categorias no “David di Donatello” – o Óscar italiano -, incluindo melhor filme, diretor e roteiro adaptado, e venceu melhor figurino, maquiagem e cabelo.   

Bellocchio, que assina o roteiro com Susanna Nicchiarelli e Edoardo Albinati, narra uma das histórias que chocou a Itália no século XIX, a do menino judeu Edgardo Mortara, de seis anos, sequestrado em 1858 pela Igreja Católica, por uma perspectiva politizada e crítica.   

Sofrendo de uma grave doença infantil, Mortara teria sido submetido a um rápido rito de batismo realizado por uma empregada, cristã, que acreditava que ele morreria.   

A Igreja afirmou ter recebido um relatório sobre o episódio, e assumiu a guarda do menino, justificando que havia uma lei proibindo não católicos de criar uma criança católica.   

Mortara foi então levado ao clero sob a custódia do papa Pio IX, para receber uma educação cristã. Os pais, abalados e incrédulos, fizeram de tudo para ter seu filho de volta, mas o pontífice não aceitou devolver o menino.   

Ele só retornou aos pais quando já era adolescente, 12 anos depois, mas a família entrou em conflito a respeito da fé adquirida e Mortara decidiu retornar para Roma e tornar-se sacerdote.   

O longa fez sua estreia na mostra competitiva do festival de Cannes e também foi exibido nos Festivais de Toronto e Nova York. Em entrevista, Bellocchio conta que a ideia do filme sempre foi a de centrar em fatos estritamente históricos documentados antes de deixar a imaginação cobrir as lacunas dessa história.   

“Sabemos muito pouco sobre a vida privada dos personagens, por exemplo. A estrutura do filme é sustentada por vários pilares históricos: o sequestro em 1858, o julgamento em 1860 e a captura de Roma em 1870”, explicou.   

O cineasta italiano conta ainda que o longa é sobre o poder da Igreja que atravessa séculos e chega até o presente.   

“Naturalmente, o que Eduardo Mortara viveu nunca poderia acontecer hoje, numa época de diálogo aberto e de um Papa de mente extremamente aberta. Naquela época, havia de fato a sensação de que a fé católica não podia ser abalada”, acrescentou Bellocchio.   

Por fim, destacou que “este filme não busca colocar um lado contra o outro”, mas o “destino deste homem falou comigo e me inspirou. Sua história me encheu de sentimento e tensão. Essas emoções abriram o caminho para moldar o filme. Minha empatia vai claramente para a criança que sofreu um ato de extrema violência”. (ANSA).