Filme de dissidente iraniano conquista Urso de Ouro em Berlim

Filme de dissidente iraniano conquista Urso de Ouro em Berlim

O filme “There Is No Evil”, do iraniano Mohammad Rasoulof, impedido por autoridades de sair daquele país, foi premiado neste sábado como o Urso de Ouro do 70º Festival de Berlim, em uma edição de forte caráter político. Já o drama brasileiro “Todos os Mortos” não saiu com troféu.

O júri, presidido pelo britânico Jeremy Irons, concedeu o prêmio máximo ao filme de Rasoulof, que aborda a pena de morte, um tabu no Irã. O diretor está impedido de deixar seu país devido ao filme “Lerd”, que denuncia a corrupção no Irã e foi premiado em Cannes em 2017. Ele também é proibido de filmar.

“Gostaria que ele estivesse aqui. Muito obrigado a toda esta equipe incrível que arriscou sua vida para estar no filme”, disse o produtor Farzad Pak ao receber o troféu. Em entrevista coletiva posterior, ele conseguiu falar brevemente com o diretor por videoconferência no celular.

“Quis falar sobre as pessoas que tomam decisões baseadas na pressão externa. Das pessoas que fogem da responsabilidade, mas que têm a possibilidade de dizer não” ao governo, disse Rasoulof.

O filme favorito da crítica, “Never Rarely Sometimes Always”, da americana Eliza Hittman e que defende o direito ao aborto, levou o Grande Prêmio do Júri.

Os atores Elio Germano, da Itália, e Paula Beer, da Alemanha, ficaram com os troféus de melhor interpretação, por seus papéis em “Hidden Away” e “Undine”.

A fotografia do polêmico “DAU. Natasha”, considerado pornográfico na Rússia, foi recompensada por sua “contribuição artística excepcional”. O filme faz parte do projeto experimental monumental do russo Ilya Khrzhanovsky, que filmou durante dois anos 400 voluntários em uma réplica de cidade científica soviética na Ucrânia.

A nova direção do festival, integrada por Carlo Chatrian e Mariette Rissenbeek, substituiu nesta edição Dieter Kosslick, que esteve à frente do evento por 18 anos. “Não foi uma ruptura radical, e sim uma renovação minuciosa”, avaliou a rede alemã ZDF, considerando que houve mais filmes experimentais em competição e menos diretores renomados, apesar de a seleição ter sido “de nível muito alto”.

A 70º edição do festival também foi marcada por revelações sobre o passado nazista de um ex-diretor da “Berlinale”, que forçou os organizadores a transformar o Prêmio Alfred-Bauer em Urso de Prata.