De um lado, Charlize Theron, linda, alta e loira. Do outro, Seth Rogen, com a barba desgrenhada, camiseta puída e umas gordurinhas saltando aqui e ali. Mas na comédia romântica “Casal Improvável”, dirigida por Jonathan Levine, os dois não formam o casal improvável do título por causa de sua aparência. “Nem pensei na questão física”, disse Rogen, que é um dos produtores, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em Los Angeles. “Queríamos apresentar ao público duas pessoas aparentemente incompatíveis que, no fim, são complementares uma à outra.”

A incompatibilidade vem do fato de Charlotte Field (Theron) ser a poderosa Secretária de Estado americana – no Brasil equivalente a ministra das Relações Exteriores -, posição que foi ocupada na vida real por mulheres como Hillary Clinton, Condoleezza Rice e Madeleine Albright. E Fred Flarsky (Rogen) é um jornalista progressista e um tanto radical que acabou de ser demitido do jornal em que trabalhava. Os dois se conhecem de longa data – Charlotte costumava ser baby-sitter de Fred, que, pré-adolescente, nutria por ela uma paixão platônica. Reencontram-se numa festa, e ela resolve chamá-lo para sua campanha à presidência da República.

“Casal Improvável” passa por cima de alguns clichês da comédia romântica, como a do sujeito que não quer compromisso e é transformado ao encontrar a garota certa ou da mulher que até tem sua carreira, mas não hesita em abrir mão dela por amor. “Queríamos refletir o mundo em que vivemos”, disse Charlize Theron. Num dado momento, os dois discutem a possível divulgação de um vídeo comprometedor. “As imagens no filme são absurdas, mas certamente casais já tiveram de debater esse tipo de coisa”, afirmou Levine. “Mostramos ainda como é difícil ser uma mulher poderosa num clube do bolinha, e isso acontece não apenas na política.”

“Casal Improvável” também era uma chance de, como tantas produções americanas no passado, usar a plataforma para fazer um comentário político – de leve. “Mas nosso filme é adjacente à realidade”, explicou o diretor. “Não poderíamos ter uma comédia romântica baseada na realidade porque ela seria infundida pelo ódio e revolta que as pessoas sentem em relação à política americana hoje.” Assim, Charlotte é secretária de Estado de um presidente (Bob Odenkirk) que brinca com um tipo meio Donald Trump, obcecado pelos holofotes, mas que não é realmente ele. “Queríamos que o filme fosse escapismo também. E mostrasse um mundo onde políticos ainda querem fazer a coisa certa”, disse Levine.

Como no Brasil e em outros países do mundo, a população americana está dividida em dois campos. Uma das cenas mais engraçadas de “Casal Improvável” trata justamente desse abismo. “Eu acho que cada um tem uma posição pessoal sobre como lidar com isso, mas eu gosto que o filme coloca isso em discussão”, afirma Rogen.

Tanto ele quanto Charlize Theron contaram que discutiram muito com os outros por causa de posições políticas. “Inclusive com minha mãe”, disse a atriz. “Para ela, eu não podia criticar nada nos Estados Unidos porque era muito melhor que a África do Sul, de onde viemos.”

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Quando Seth Rogen, canadense, chegou ao país vizinho, sentiu-se muito mais à esquerda do que o mais esquerdista dos americanos. “Eu era basicamente comunista”, disse, rindo. “Me vi em muitos conflitos com pessoas progressistas. Então logo percebi que, estar do mesmo lado ou não, independe, e que é possível ultrapassar certas rusgas e continuar amigo de pessoas que não estão do mesmo lado.” Com graça e leveza, “Casal Improvável” mostra como isso pode ser possível. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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