Depois dos filmes “Metropolis” (1927) e “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), chegou a vez de o cinema brasileiro ter uma obra exibida com a trilha executada ao vivo por uma orquestra no Theatro São Pedro, em São Paulo. De 5 a 8 de setembro, o cine da instituição projeta o filme “Caiçara” (1950), de Adolfo Celi, acompanhado pela orquestra do próprio teatro, regida pelo maestro Marcelo Falcão.
Filmado em branco e preto, “Caiçara” se passa em Ilhabela, litoral de São Paulo, e traz a história de Marina (Eliana Lage). Filha de leprosos, ela tem medo de adoecer e sofre com o preconceito dos moradores locais. Aceita a proposta de casamento com Amaro, um empresário rico do lugar, e passa a ser assediada pelo sócio dele. Uma amiga diz verdades sobre Amaro e aconselha Marina a esperar pelo homem certo, sem saber que um marinheiro está a caminho da ilha.
Como o projeto é feito em parceria com a Cinemateca Brasileira, a cópia que o público verá no Theatro São Pedro tem a melhor qualidade de som e imagem possível. Há uma versão do filme no Youtube, mas é preciso muito boa vontade para lidar com a precariedade da cópia. Para tornar possível fazer essa união de exibição com orquestra ao vivo, é preciso ter acesso à banda sonora mais cristalina possível.
Como, diferentemente dos dois primeiros filmes exibidos no projeto, “Caiçara” tem diálogos, por vezes a trilha é ouvida sob eles. “Isso impõe uma dificuldade adicional. Nesses trechos, a orquestra tem de tocar em um volume que permita ao público entender o diálogo, mas ouvindo a trilha que está ali”, diz o maestro Marcelo Falcão, que também respondeu pela regência da orquestra nas exibições de “Metropolis” e “O Gabinete do Dr. Caligari”.
E, quanto mais nítida for a imagem, melhor, pois ela fornece “deixas” para que o maestro acione os músicos. “É assim mesmo. Chego a anotar na partitura coisas como ‘volta após o terceiro passo da personagem’, por exemplo”, diz o maestro. Esse é um dos detalhes de um trabalho muito árduo e minucioso que começou mais de um ano antes.
O maestro rodou por vários acervos em busca da partitura com a trilha original, composta pelo pianista, regente e compositor Francisco Mignone (1897-1986). Encontrou o manuscrito original na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Com a cópia na mão, teve início o longo trabalho de reorquestração para a apresentação ao vivo, sincronizada com o filme. Tarefa meticulosa que o maestro aprimorou no exterior.
Falcão foi fundador e regente titular da Babylon Orchester Berlin, entre 2019 e 2020. A orquestra era residente no lendário cinema Babylon em Berlim. Ali, o maestro dirigiu dezenas de apresentações de filmes mudos com orquestra, apresentando clássicos como “Metropolis”, “Nosferatu” e “Encouraçado Potemkin”.
Em 2023 estreou na França com a Magic of Music Orchestra. Regeu, entre outras, a Orquestra Nacional da Rússia, Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Orquestra Nacional Filarmônica da Geórgia, Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, Argovia Philharmonic, Orquestra Sinfônica da USP, Berlin Sinfonietta, Orquestra Jovem de São Petersburgo, MÀV Budapest Orchestra e grupos de música contemporânea, como o Divertimento Ensemble na Itália e Ensemble NAMES Salzburg.
Marcelo Falcão é também maestro assistente da Orquestra Sinfônica de Santo André e, desde 2023, é regente convidado do Theatro São Pedro.
Serviço
“Caiçara” com a Orquestra do Theatro São Pedro”
Ensaio geral aberto: 4 de setembro, quarta-feira, 19h
Concertos: 5, 6, 7 e 8 de setembro, quinta-feira a sábado, às 20h; domingo, às 17h Classificação indicativa: 18 anos
Duração: 92 minutos (sem intervalo)
Ingressos: R$ 35 (meia) e R$ 70, em: https://feverup.com/m/161445