O novo presidente filipino, Rodrigo Duterte, ainda não assumiu o cargo, mas, com a detenção de três menores de idade e de bêbados nas ruas de Manila, seus cidadãos começam a ter uma ideia do que será sua luta contra o crime.
Duterte se impôs amplamente nas presidenciais de maio, depois de uma campanha centrada na segurança. Afirmando que o arquipélago está se tornando um narcoestado, o presidente eleito prometeu que milhares de delinquentes seriam mortos para acabar de forma drástica com o crime.
A polícia, encorajada pelo novo presidente, que assumirá o cargo em 30 de junho, anunciou nas últimas duas semanas ter matado mais de 20 traficantes de drogas em todo o país.
Em Manila, uma devastada cidade de 12 milhões de habitantes, já estão sendo vistos os aspectos extremos desta campanha para “limpar” as ruas.
Em um bairro carente do sul da capital conhecido como CAA, agentes levaram em seus veículos crianças de 10 anos. Duas meninas estavam chorando quando os policiais as levaram, apesar de estarem na companhia de familiares adultos.
As crianças foram conduzidas à delegacia, onde os policiais conversaram com as mesmas para, em seguida, devolvê-las a seus pais. Em outros bairros, contudo, houve casos de menores presos.
Após sua vitória, Duterte anunciou um toque de recolher noturno para crianças, assim como a proibição, durante a noite, da venda de álcool e do karaokê, muito apreciado no arquipélago.
Até o momento, os agentes de Manila aplicaram estritamente as medidas e detiveram centenas de pessoas. Os policiais falam, inclusive, em “operações RODY”, acrônimo do lema “Rid the Streets of Drinkers and Youths” (“Limpem as ruas de bêbados e jovens”) e que é, também, o apelido de Duterte.
– Ginástica ou prisão –“Todos sabemos que o fato de beber fora de casa e de que os jovens andem sem rumo pelas ruas é uma receita para o crime”, disse à AFP Jemar Modequillo, alto funcionário da polícia do bairro CAA.
Durante uma operação RODY liderada pelo delegado Modequillo, cerca de cem adultos considerados bêbados ou baderneiros foram detidos. Os agentes lhes deram a opção de pagar 40 flexões na delegacia ou pagar uma multa e passar um tempo limitado atrás das grades. Todos escolheram a primeira opção.
Mas alguns não entendem sua detenção. Rafael Ganton assegura que não havia bebido neste dia, e que seu único crime foi, aparentemente, andar à noite sem camisa. “Ia apenas fechar as portas do nosso negócio, onde se joga sinuca”, contou à AFP.
José Diokno, presidente de um grupo de assistência jurídica gratuita que atende a vítimas de abusos, está preocupado com as operações, principalmente com seus efeitos sobre as crianças. Além disso, critica o fato de as mesmas serem dirigidas à população de baixa renda. “São os mais frágeis, os mais fáceis de oprimir”, declarou à AFP.
– Permissão para matar –Rodrigo Duterte prometeu recompensas aos policiais que matarem delinquentes, e chamou os cidadãos a também matarem os suspeitos.
Uma política que “escandalizou” José Diokno, porque, segundo ele, equivale a “convidar as pessoas a fazerem justiça com as próprias mãos”.
Na mesma linha crítica com Duterte, o presidente em final de mandato Benigno Aquino chamou, neste domingo, os cidadãos a estarem “vigilantes”, para que não se repita a perda de liberdade que o país sofreu com a ditadura de Ferdinand Marcos (1965-1986).
Nas duas últimas semanas, comandos não identificados mataram ao menos nove supostos narcotraficantes, segundo a polícia, o que faz temer que grupos de autodefesa já estejam atuando.
Estes crimes lembram os cometidos em Davao, uma grande cidade do sul das Filipinas, onde Rodrigo Duterte foi prefeito durante anos. Segundo ele, Davao é, agora, uma das cidades mais seguras do país, embora os defensores dos direitos humanos assegurem que mais de mil pessoas tenham morrido nas mãos de esquadrões da morte.
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