Nas eleições de 1989, o candidato Leonel Brizola cunhou o termo filhote da ditadura para se referir especificamente ao adversário Paulo Maluf, mas a expressão valia para todos aqueles que ajudaram o regime ditatorial e, em pleno momento de abertura, se sentiam saudosos da repressão e da perda dos direitos políticos durante o governo militar. Por incrível que pareça, essa saudade doentia ainda resiste. Há gente que prefere um governo despótico, comandado por um maluco e descontrolado do que uma desafiadora democracia, onde os diferentes convivem e um permanente debate de ideias promove a evolução. É chocante pensar que amanhã haverá pessoas na rua pedindo uma volta a um regime de exceção. Serão militares de pijama, evangélicos de direita, policiais à paisana, neonazistas, fascistas, integralistas e todo tipo de radical sem compromisso com a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que vê vantagens em viver em um ambiente violento, onde todo mundo anda armado e o voto é impresso.
De uma hora para outra, o medo do golpe, essa excrescência política que um sujeito cruel e sem legitimidade quer impor para o povo, virou realidade. As manifestações que serão armadas principalmente em Brasília e em São Paulo têm como objetivo jogar uma nuvem de fumaça sobre a democracia, fustigá-la, questioná-la, além de amedrontar as instituições e as pessoas de bem, que querem continuar vivendo em um país livre. É um objetivo tão pérfido que não deveria nem ser declarado. Fechar o STF, o Congresso, achar que militares no podem solucionar nossos males são tolices de grandes proporções. Entre os golpistas vigora uma visão fantasiosa de que algo precisa ser feito para que Jair Bolsonaro possa exercer seu poder plenamente. Mas o melhor a fazer seria afastá-lo da presidência. Esta sim seria uma proposta realista para o futuro do País.
E o pior de tudo é que se usa a comemoração da independência de uma maneira nefasta. Os golpistas tentam se apropriar de símbolos da liberdade para levar adiante projetos autoritários e colocar a população de joelhos. Dom Pedro I deve estar se remoendo no túmulo. O que deveria ser um dia de alegria, de manifestações cívicas de regozijo se tornou um dia de tensão em que se teme o pior. Uma ameaça terrível paira sobre nossas cabeças. Nunca os filhotes da ditadura estiveram tão acesos. E esperançosos de uma asquerosa regressão política. Bolsonaro está partindo para o tudo ou nada e, muito provavelmente, vai sair com nada. Os filhotes da ditadura não passarão. Somos um país democrático, tão democrático que seremos capazes de dar uma invertida em Bolsonaro, escancarar de uma vez por todas a sua imbecilidade. No final das contas, restará para ele o esgoto da história.