Jair Bolsonaro foi eleito prometendo mudar o Brasil. Mais de 57 milhões de brasileiros acreditaram nessa balela. Não foi preciso mais do que poucos meses para ele mostrar a real faceta de seu governo. Disse que acabaria com a corrupção, mas não fica nem um pouco vermelho ao ver o filho senador Flávio fazer o milagre da multiplicação dos imóveis no Rio de Janeiro. E, pior, não se incomoda que esse mesmo filho seja o pivô de uma inexplicável ligação com seu ex-motorista, Fabrício Queiroz, que enriqueceu de forma suspeita e até depositou dinheiro na conta da primeira-dama.

Ou seja, o filho mais velho acabou envolvendo a família toda nos seus malfeitos, mas o pai, em vez de repreendê-lo, lhe dá a maior força. Quer afastar do governo todas as autoridades que, de uma forma ou outra, contribuíram para que o filho, e também o amigo Queiroz, sejam investigados. Usa exatamente a mesma estratégia que os corruptos petistas utilizavam: meu filho nada fez de errado e tudo não passa de armação da oposição para prejudicar o governo.

O presidente quer dar filé mignon aos filhos, mas a maioria dos brasileiros mal consegue dar carne de pescoço para seus rebentos

O pai protege seus rebentos em todos os seus atos, seja onde haja suspeita de ações criminosas ou diante de um simples gesto de desobediência do poder paterno. Quando o filho Carlos desancou ministros do governo, como Gustavo Bebianno e Santos Cruz, atacando-os no Twitter, Bolsonaro quis que o “garoto” lhe devolvesse a senha da conta da rede social para que parasse de falar bobagens em seu nome. Carluxo, como é conhecido, não devolveu e ainda fez pirraça, apimentando o tom das mensagens.

O auge dessa desmedida proteção aos filhos veio com a indicação de Eduardo para o cargo de embaixador em Washington. Contrariando os que dizem que a nomeação configuraria a prática de nepotismo — classificada como crime —, Bolsonaro insiste. Para justificar que pode ser embaixador, Eduardo disse que já tinha fritado hambúrguer no Maine. O pai, mais uma vez, não deu bola para os críticos dessa argumentação, no mínimo imoral, e disse que almeja dar o melhor para os filhos. Afirmou que se puder dar filé mignon a eles, dará. Ora, presidente, a diplomacia brasileira não é um açougue da Barra da Tijuca, onde o senhor morava. Lembre-se que boa parte dos brasileiros mal consegue dar carne de pescoço de galinha para seus filhos.