Os protestos que o Irã vive representam “uma revolução das mulheres, para as mulheres”, estimou em entrevista à AFP o filho do falecido xá do Irã, que instou a comunidade internacional a fazer mais para acelerar a queda do regime islâmico de Teerã.

“São realmente os tempos modernos, na minha opinião. A primeira revolução de mulheres, para mulheres, com o apoio de maridos, filhos, irmãos e pais”, disse Reza Palevi, cujo pai foi derrubado pela Revolução Islâmica em 1979.

“Chegamos a esse ponto, como dizem os espanhóis: basta!”, acrescentou Palevi, que vive exilado em Washington.

Pela décima segunda noite consecutiva, os iranianos saíram às ruas nesta terça-feira em várias cidades para protestar contra a morte de uma jovem detida pela polícia da moral, apesar da repressão que já deixou dezenas de mortos.

“Acho que a maioria das mulheres iranianas, quando olham para as liberdades das mulheres em outras partes do mundo, exigem os mesmos direitos para si mesmas”, acrescentou Palevi.

Seu avô, Reza Shah, proibiu o uso do véu em 1936 em um movimento de ocidentalização inspirado na vizinha Turquia.

Seu pai, o último xá do Irã, Mohamed Reza Pahevi, deixou às mulheres a opção de usá-lo ou não, algo que a República Islâmica pôs fim quando chegou ao poder.

Palevi, pai de três filhas, estima que a sociedade iraniana há muito se caracteriza pelo “chauvinismo masculino” e que os direitos das mulheres devem ser respeitados.

Usar o véu “deveria ser uma escolha livre (das mulheres) e não imposta por razões ideológicas ou religiosas”, aponta.

– Alternativa –

Reza Palevi, uma figura respeitada entre os iranianos no exílio, diz que não quer o restabelecimento de uma monarquia no Irã, uma ideia com pouco apoio no país.

Em vez disso, e como outros grupos de oposição no exterior, ele se declara a favor da criação de uma assembleia constituinte para redigir uma nova Carta Magna.

“Não há como ter uma verdadeira democracia sem uma clara definição e separação entre Igreja e Estado”, assegura.

A República Islâmica ostenta o poder há mais de quatro décadas, apesar da dissidência interna e da antipatia do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos; mas, segundo Palevi, o regime pode cair a qualquer momento e a comunidade internacional deve se preparar.

“Deve-se considerar que existe a possibilidade de que esse regime não dure muito mais. E quando eu digo muito mais, isso pode ser em alguns meses ou semanas, e aí você tem que pensar em uma alternativa”, acrescentou.

Nesse sentido, Palevi defendeu uma “implosão controlada” e uma transição pacífica.

Também saudou a condenação da comunidade internacional à repressão aos protestos no Irã – em particular na Alemanha e no Canadá – e pediu uma pressão crescente sobre Teerã, expulsando, por exemplo, diplomatas e congelando seus bens.

“É importante dar mais do que apoio moral. Seriam medidas que teriam impacto”, explicou.

Palevi disse estar preocupado com um eventual retorno dos EUA ao acordo nuclear de 2015, que permitiria ao Irã exportar mais uma vez seu petróleo para os mercados mundiais.

As potências ocidentais tendem a pensar que se pode “criar incentivos para que o regime mude seu comportamento”, mas Palevi diz que o Irã está entrincheirado em sua ideologia. “Impossível conviver com este regime.”