MILÃO, 21 MAR (ANSA) – Um adolescente egípcio de 13 anos é o herói que evitou um massacre de estudantes na última quarta-feira (20), quando um cidadão ítalo-senegalês sequestrou e incendiou um ônibus escolar com mais de 50 pessoas no norte da Itália.   

Ramy Shehata escondeu o celular do agressor, Ousseynou Sy, que queria cometer um atentado para protestar contra as políticas migratórias do governo italiano, e conseguiu alertar os serviços de emergência.   

“Meu filho fez seu dever, seria belo se obtivesse a cidadania italiana”, disse nesta quinta-feira (21) o pai do jovem, Khalid Shehata. “Somos egípcios, chegamos na Itália em 2001, meu filho nasceu aqui, em 2005, mas ainda esperamos um documento oficial.   

Queremos muito ficar nesse país”, acrescentou.   

Pelas leis italianas, um filho de imigrante nascido no país só pode obter a cidadania após completar 18 anos. “Pensei somente em meus colegas, queria salvá-los, tentei tranquilizá-los, não importava o que podia acontecer comigo”, contou Ramy.   

Segundo seu relato, Sy afirmava que “não queria fazer mal” a ninguém, apenas que queria “vingar” sua mulher e suas três filhas, supostamente mortas no Mar Mediterrâneo. “Quando crescer, quero ser policial”, disse Ramy à ANSA.   

O vice-premier e ministro do Desenvolvimento Econômico da Itália, Luigi Di Maio, propôs conceder cidadania por “mérito especial” ao adolescente e revogar a de Sy, que é italiano desde 2004. “É também graças a ele [Ramy] que se evitou o pior. Seu pai lançou um apelo, pediu que seja reconhecida sua cidadania, e acho que o governo deve acolher esse pedido”, declarou Di Maio.   

O outro vice-premier da Itália, Matteo Salvini, também ministro do Interior, foi mais cauteloso e afirmou que o caso ainda está sendo analisado. “Devemos agora ler os autos e avaliaremos”, ressaltou. A cidadania por méritos especiais deve ser proposta pelo Ministério do Interior, aprovada pelo governo e sancionada pelo presidente da República.   

Sequestro – Ousseynou Sy era o motorista do ônibus e levava os jovens de volta a uma escola de Crema, a 50 quilômetros de Milão, após uma atividade externa. Perto de San Donato Milanese, ele mudou a rota e disse aos 51 estudantes a bordo que iria para o Aeroporto de Linate, em Milão.   

Sy confiscou todos os celulares dos jovens, à exceção do de Ramy, que conseguiu alertar a polícia. O agressor tentou furar um bloqueio da Arma dos Carabineiros, mas perdeu o controle do ônibus, que se chocou contra uma mureta. Sy então espalhou gasolina pelo veículo e o incendiou, porém os policiais conseguiram retirar todos os passageiros em segurança. O sequestro durou pouco menos de 40 minutos.   

Uma estudante que estava no ônibus relatou à polícia que o agressor culpava Salvini e Di Maio pelas mortes de migrantes.   

“Ele nos ameaçava, dizia que, se nos movêssemos, jogaria gasolina e colocaria fogo. Ficava dizendo que as pessoas na África morrem, e a culpa é de Di Maio e Salvini”, contou a jovem.   

O agressor tinha antecedentes penais por dirigir embriagado (2007) e assédio sexual contra uma adolescente (2011). (ANSA)