Vítima de um golpe de R$ 724 milhões, a idosa de 82 anos levou quase um ano para procurar a Polícia Civil e denunciar o caso envolvendo a própria filha, Sabine Coll Boghici. De acordo com as investigações, Sabine se envolveu com um grupo de falsos videntes para extorquir dinheiro da mulher. As informações são do Uol.

Os crimes ocorreram entre 2020 e 2021. Em janeiro de 2020, a idosa, viúva de um grande colecionador de arte foi abordada por uma mulher que se apresentou como vidente e dizia que sua filha estaria doente com expectativa de morte em breve.

Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Civil, “por ter um lado místico e uma filha que enfrenta problemas psicológicos desde a adolescência”, a idosa foi convencida, com reforço da filha, a realizar os pagamentos que seriam destinados ao tratamento espiritual proposto. “Entre os dias 22 de janeiro e 5 de fevereiro de 2020, foram realizadas oito transferências bancárias que ultrapassavam R$ 5 milhões”, revelou.

Após efetuar os pagamentos, Sabine voltou a morar com a mãe, dispensou funcionários, afastou a idosa dos amigos e passou a controlar o telefone dela. A filha ainda se aproveitou da pandemia para justificar o isolamento da mãe. Com o tempo, a vítima começou a sofrer ameaças e agressões da filha para efetuar novas transferências.

“Como ela não fez novos pagamentos, a filha e a Rosa [uma das falsas videntes que atendeu a idosa] começaram a levar as obras de arte da casa alegando que o quadro estava com mau olhado, com energia negativa e que precisava ser rezado”, contou o delegado Gilberto Ribeiro.

No total, 16 quadros foram levados da casa. Outros R$ 6 milhões em joias também foram roubados. Durante o período de cárcere, que durou cerca de 15 meses, a mulher teve uma faca apontada para o seu pescoço pela própria filha e chegou a ser deixada sem comida.

Fuga

A idosa conseguiu fugir do apartamento em abril de 2021 com uma chave reserva que ficava escondida. “Num determinado dia, a filha saiu da casa e deixou a idosa sozinha acreditando que ela não tinha como sair, mas a idosa tinha uma chave reserva que nunca havia informado que tinha, e foi para a casa de uma amiga”, disse o delegado.

“Ali, ela se recuperou um pouco psicologicamente e resolveu voltar para casa com pessoas de uma clínica psiquiátrica para fazer a internação da filha”, contou Ribeiro. No entanto, a filha pediu para a mãe não executar a internação e foi embora do imóvel.

Na sequência, a idosa trocou as chaves da fechadura e informou aos profissionais do prédio que Sabine não estava mais autorizada a entrar no local. A denúncia na delegacia só foi feita no primeiro semestre de 2022. “Ela estava muito amedrontada e com o sentimento de mãe de como denunciar a própria filha”, explicou o delegado.

Operação Sol Poente

Na quarta-feira (10), policiais civis da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti) do Rio de Janeiro deflagraram a Operação Sol Poente para desarticular a quadrilha acusada de roubar a idosa.

Foram presos Jacqueline Stanescos, Rosa Stanesco Nicolau, Gabriel Nicolau Traslavinã e a filha da idosa. Além deles, Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic e Slavko Vuletic estão sendo procurados. Um sétimo envolvido, Ronaldo Ianov, morreu durante o curso da investigação.

Os mandados de busca e apreensão foram expedidos para 14 locais, mas foi um apartamento em Ipanema que acabou se demonstrando como o principal ponto para os policiais. No local foram encontrados três dos acusados – incluindo a filha – e 11 obras de arte.