Coluna: Mineração S.A.

Com 10 anos na área de mineração, Gabriel Guimarães é advogado especialista do setor mineral, com atuação em empresas nacionais e estrangeiras.Também com 10 anos de atuação no setor, Eduardo Couto é presidente da Comissão Especial de Direito Minerário da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), vice-presidente jurídico e institucional do Grupo Cedro Participações e conselheiro do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra).

FIEMG contesta exigência do Ibama de anuência prévia para licenciamento ambiental

FIEMG contesta exigência do Ibama de anuência prévia para licenciamento ambiental

A Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) é contra recente decisão do presidente do Ibama que passou a exigir a anuência prévia do órgão para liberação de licenciamento ambiental para atividades minerárias onde seja necessária a supressão de vegetação no Bioma Mata Atlântica. Em razão dessa decisão, o Sindicato da Indústria Mineral de Minas Gerais (SINDIEXTRA-MG) entrou com mandado de segurança junto ao Tribunal Regional Federal da 6ª Região para suspender a medida.

O argumento da FIEMG e do SINDIEXTRA-MG é de que essa medida poderá gerar prejuízos irreparáveis decorrentes da morosidade processual, e levar à inviabilidade do desenvolvimento das atividades minerárias. Segundo o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, a decisão é ilegal por ferir a Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/2006) e a Lei Complementar nº 140/2011, além de contrariar pareceres da Advocacia-Geral da União (AGU).

“Além de violar leis federais e trazer insegurança jurídica e burocracia desnecessária, essa ação ameaça o setor mineral, essencial para o desenvolvimento econômico e ambiental do Brasil. A mineração já está sujeita a rigorosos processos de licenciamento ambiental conduzidos pelos órgãos competentes”, ressalta Roscoe.

Um levantamento realizado pela FIEMG, aponta que, nos últimos dois anos, o IBAMA recebeu 755 novos processos de licenciamento ambiental, dos quais apenas 159 foram concluídos, resultando em uma taxa de conclusão de 21%. Esses números refletem não apenas a incapacidade operacional do IBAMA em atender à demanda, mas também o risco de paralisar projetos fundamentais para o desenvolvimento econômico de Minas e do Brasil.

Além disso, Minas Gerais é o estado que historicamente lidera a produção mineral no Brasil, setor que tem adotado as melhores práticas de sustentabilidade e proteção ambiental. Estudos conduzidos pela FIEMG mostram que, nas propriedades das mineradoras, a cada 1 hectare ocupado pela atividade minerária, o setor preserva outros 8 hectares. O índice de preservação ambiental nessas áreas é de 53%, sendo 50% superior à média estadual de 35%.

Um outro exemplo é o Quadrilátero Ferrífero, maior polo de mineração do país, que possui 68,85% do território preservado, enquanto a atividade ocupa apenas 2,95% da área, de acordo com estudo elaborado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e publicado na revista internacional Journal for Nature Conservation. “Os números evidenciam o compromisso do setor com a conservação da biodiversidade e o uso racional dos recursos naturais”, afirma Roscoe.

A FIEMG ainda destaca que a mineração é um importante setor para a geração de empregos. Na extração de minério de ferro, por exemplo, cada emprego direto na mineração resulta na criação de 21,5 empregos na cadeia produtiva e na economia regional, o que reforça a importância do setor para o desenvolvimento sustentável.

Para Roscoe, a decisão do Ibama fere o equilíbrio entre crescimento econômico, conservação ambiental e segurança jurídica, valores que devem caminhar juntos para o desenvolvimento do país. “Agir em desconformidade com a legislação vigente e as competências legais dos estados é um ataque à confiança necessária para atrair investimentos e dar continuidade às atividades produtivas. Confiamos no Poder Judiciário para corrigir essa grave decisão”, diz.

A Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente – ABEMA também se manifestou contrária à decisão do Presidente do IBAMA ao enviar uma carta ao Ministro da Casa Civil, Rui Costa, solicitando o cancelamento do Despacho Decisório. A carta, assinada pela Presidente da ABEMA, Mauren Lazzaretti, e por representantes de 16 Estados inseridos no Bioma Mata Atlântica alega conflito da decisão com a Lei da Mata Atlântica, incompatibilidade com posicionamentos pretéritos do IBAMA e da AGU e indevida interferência na competência dos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente.

Para a Secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Marília Melo, além de todos os problemas e conflitos relatados na carta da ABEMA, a anuência do IBAMA não traz qualquer proteção adicional ao Bioma, mas tão somente uma etapa administrativa a mais no processo de licenciamento ambiental, sem qualquer ganho ambiental. “Entre os anos de 2023 e 2024, período em que o IBAMA não estava analisando anuências no Estado de Minas Gerais, houve uma queda expressiva no desmatamento no Bioma Atlântica em Minas Gerais, com redução de 25% em 2023, em relação a 2022, e 37% em 2024, em relação a 2023”, diz.