A disputa pela presidência da Câmara ressuscitou a importância da esquerda, tão rejeitada nas urnas, mas que ainda tem força no Congresso. Afinal, o PT de Gleisi Hoffmann tem a maior bancada na Câmara, com 54 deputados. O PSB, de Carlos Siqueira, tem 31 e o PDT, de Ciro Gomes, outros 28 parlamentares. Juntos, a esquerda tem 130 deputados, incluindo aí os 10 do PSOL, os 9 do PCdoB, entre outros. Como a disputa entre Arthur Lira (PP-AL), candidato do presidente Bolsonaro, e o candidato de Rodrigo Maia está muito equilibrada, a posição da esquerda será decisiva nesse embate. Hoje, Arthur Lira tem em torno de 170 votos (PP, PL, PSD, Avante, Solidariedade, entre outros), enquanto o candidato apoiado por Maia tem algo como 150 votos.

Empate

É praticamente um empate técnico. Parte da esquerda rejeita o candidato de Bolsonaro, mas outra parte está tentada a ficar com ele, desde que Lira se comprometa a detonar a Lava Jato, a prisão após condenação em segunda instância e a Lei da Ficha Limpa. Se Maia optar por Baleia Rossi, do MDB, é possível que parte da esquerda o acompanhe.

Unidade

A oposição tenta achar um ponto de unidade, mas esse acordo está difícil. O PT se reuniu em São Paulo e não resolveu se apoiará alguém ou se lançará candidato próprio. O PSB decidiu que não ficará com Lira, mas não tomou uma posição de punir quem votar com ele. Já o PDT pode lançar a candidatura de Mário Heringer (MG) se não houver consenso.

Ficha suja

Pedro Ladeira

Além de responder a inúmeros processos judiciais, o deputado Arthur Lira está com as contas bancárias bloqueadas. Por decisão da 11ª Vara da Justiça Federal do Paraná, em ação da Lava Jato, o parlamentar e seu pai, Benedito Lira, que acaba de se eleger prefeito de Barra de São Miguel, estão com R$ 10,4 milhões bloqueados. Segundo o MPF, ambos desviaram R$ 2,6 milhões da Petrobras no quadrilhão do PP.

Retrato falado

“A população não quer extremistas” (Crédito:Divulgação)

O prefeito eleito de Salvador, Bruno Reis, diz que a população não quer políticos com posições extremistas, mas alguém que busque o consenso. No caso da pandemia, o prefeito afirma que a população não quer polêmicas como as criadas por Bolsonaro. “As pessoas querem a vacina” e o presidente tem que garantir a imunização de todos. A preocupação em Salvador, segundo ele, é com a explosão no número de casos. “Estamos mobilizando equipes e nos preparando para a segunda onda.”

Toma lá dá cá

Sebastião Melo, prefeito eleito de Porto Alegre (Crédito:Miguel Noronha)

O senhor venceu a eleição, mas na véspera as pesquisas apontavam como vencedora a sua adversária, Manuela D’Ávila.
Pesquisa é uma das questões que a Justiça Eleitoral tem que resolver. O Ibope, que já não tinha muita credibilidade, piorou muito.

Apesar de assumir o cargo no dia 1º de janeiro, o senhor já vem governando?
Tenho me reunido com vários setores da sociedade, da área produtiva, dos detentores de concessões públicas e do segmento da medicina, por causa da pandemia. Há problemas que não podem esperar até a posse.

Qual é o mais urgente?
Um deles está no transporte público, que está em colapso. Temos que exigir que o presidente nos ajude a resolver a questão, reduzindo impostos, por exemplo.

As férias de Guedes

Enquanto o circo pega fogo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ficará 21 dias de férias. Tudo bem, se a economia estivesse sob controle. Mas, não. A economia está um caos. O Brasil vai virar o ano sem ter aprovado o Orçamento para 2021. Pior, não estabeleceu metas para as contas públicas, razão pela qual a equipe econômica fixou o déficit em R$ 230 bilhões para o ano que vem. Por falta de articulação de Guedes com o Congresso, também não teremos a votação da PEC Emergencial e as reformas tributária e administrativa. Por causa da briga com Rodrigo Maia, a tributária não avançou e a administrativa nem saiu do lugar.

Repique

Além disso, ainda temos o risco da volta da inflação, a ameaça de calote nos títulos públicos e o repique no aumento nos casos de coronavírus. Se a pandemia recrudescer, o Brasil precisará de novo auxílio emergencial. E Guedes vai tirar dinheiro de onde? Ele deveria aproveitar as férias para pensar.

A negociação no Senado

O DEM quer entregar os anéis, sem perder os dedos. Hoje, o partido tem as presidências da Câmara e do Senado, mas pode acabar ficando sem nada. Maia e Alcolumbre tentam manter a presidência do Senado. Abririam mão da eleição de Elmar Nascimento na Câmara, apoiando Baleia Rossi, e pediriam o apoio do MDB para o candidato do DEM no Senado.

Mineiro

Nesse caso, o nome do DEM para o Senado ganha muita força. Trata-se do senador Rodrigo Pacheco (foto), um mineiro bem relacionado no Congresso e junto aos empresários. E o que é mais importante: o prefeito de Salvador, ACM Neto, presidente nacional do DEM, já bateu o martelo nessa solução. Falta combinar com os russos, que no caso é o MDB.

Lugar da mulher é na prefeitura

Divulgação

Este ano, as mulheres ganharam mais espaço na política. Foram eleitas 264 prefeitas em todo o País, o dobro das
122 eleitas em 2016. Entre elas está Cinthia Ribeiro (foto), reeleita em Palmas (TO). Mas ainda é pouco: em 3.400 prefeituras, das 5.686 cidades brasileiras, nunca uma mulher foi prefeita.

Rápidas

* O governo estima que vai precisar de R$ 20 bilhões para comprar vacinas para os 210 milhões de brasileiros, mas não tem ideia de onde vai tirar os recursos e nem se vai ou não vai comprar a Coronavac. Enquanto isso, a Inglaterra e os EUA vacinam suas populações.

* O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta lembra que o governo nem abriu licitações para comprar seringas e agulhas. O risco é acontecer o mesmo que ocorreu com os respiradores: quem chegar depois fica sem os insumos.

* O deputado estadual Campos Machado está experimentando do veneno que sempre destilou no PTB. Depois de 40 anos dando as cartas no partido em São Paulo, vai deixar a legenda por causa do autoritarismo de Roberto Jefferson.

* Campos Machado diz estar insatisfeito com a aproximação de Roberto Jefferson com o presidente Bolsonaro. Vai para o Avante e promete levar junto a maioria dos 57 prefeitos do partido no Estado de São Paulo. Será?