A grande peregrinação anual dos muçulmanos começa nesta sexta-feira (14) na cidade saudita de Meca e suas imediações, com a chegada dos fiéis ao grande acampamento de Mina, na região oeste do reino, sob um calor sufocante.

A peregrinação, ou hajj, começa com o rito do “tawaf”, que consiste em dar voltas na Kaaba, a estrutura cúbica preta na direção da qual todos os muçulmanos do mundo rezam, localizada no coração da Grande Mesquita.

Depois, os fiéis seguem para Mina, um vale cercado por montanhas rochosas a vários quilômetros de Meca, onde passarão a noite em tendas climatizadas.

Intisham el Ahi, um paquistanês 44 anos, compartilha a sua tenda com dezenas compatriotas. “Deveria haver mais espaço entre as camas e o ar condicionado não funciona muito bem (…) mas o hajj é sinônimo de paciência”, disse.

Nebulizadores foram instalados na área externa. Além disso, guardas de borrifam água nos fiéis.

O sábado deve ser um dia de orações particularmente difícil para os peregrinos no Monte Arafat. Segundo o porta-voz do Ministério da Saúde saudita, Mohammed al-Abdulali, no ano passado o governo atendeu mais de 10 mil peregrinos com problemas vinculados ao calor.

Com a guerra entre Israel e o movimento islamista Hamas na Faixa de Gaza, muitos peregrinos afirmam que rezam pelos moradores do território palestino, bombardeado e cercado há mais de oito meses.

– “Imagens de guerra” –

A guerra começou em 7 de outubro com o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, que matou 1.194 pessoas, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Em represália, Israel iniciou uma grande ofensiva militar contra Gaza que deixou mais de 37.200 mortos, segundo o Ministério da Saúde do governo de Gaza, liderado pelo Hamas.

Na cidade sagrada do islã, a marroquina Zahra Benizahra, 78 anos, não consegue conter as lágrimas ao falar sobre as “imagens de guerra, os deslocados, as crianças mortas”.

“Nossos irmãos estão morrendo, vemos com nossos próprios olhos”, declarou a peregrina.

Procedente da Indonésia, país com maior número de muçulmanos no planeta, Belinda Elham também está desolada com o conflito.

“Quando nossos irmãos sofrem, nós sofremos”, disse a mulher de 43 anos.

A monarquia saudita anunciou esta semana que assumirá os custos da peregrinação de mil parentes de vítimas da guerra em Gaza, o que eleva para 2 mil o número de palestinos beneficiados pela iniciativa.

Mas também advertiu, em uma mensagem do ministro responsável pelo hajj, Tawfiq al-Rabiah, que não permitirá qualquer manifestação política na peregrinação, dedicada estritamente à oração.

O hajj, que consiste em uma série de ritos durante vários dias em Meca e suas imediações, é um dos cinco pilares do Islã.

Caso tenham os recursos, todos os muçulmanos devem participar na peregrinação ao menos uma vez na vida.

Algumas pessoas precisam aguardar por vários anos pela oportunidade de fazer a viagem, já que a Arábia Saudita distribui as permissões com um sistema de cotas por país.

Nonaartina Hajipaoli sente-se privilegiada por integrar o grupo de mil peregrinos que viajaram do sultanato de Brunei. “Não tenho palavras, não consigo descrever o que sinto”, disse a mulher de 50 anos.

– Calor –

A organização do hajj é uma fonte de legitimidade para a Arábia Saudita, cujo soberano ostenta o título de “guardião das duas mesquitas sagradas”, em Meca e Medina.

Mas também representa um importante desafio logístico para o reino, que no ano passado recebeu mais de 1,8 milhão de peregrinos, 90% deles do exterior.

Após uma série de catástrofes como a ocorrida em 2015, quando 2.300 pessoas morreram em um grande tumulto, as autoridades aperfeiçoaram o sistema de gestão do fluxo de multidão e começaram a ampliar a Grande Mesquita, obra que deverá ser concluída em 2025.

Também adotaram medidas para ajudar os peregrinos a suportar o calor no país desértico, onde os termômetros devem atingir 48ºC nos próximos dias.

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