A menos de duas semanas da eleição, Bolsonaro se deslocou para um giro internacional com o objetivo de turbinar seu programa eleitoral e tentar sair das cordas. As últimas pesquisas comprovam que sua rejeição estratosférica já está consolidada e ele não consegue sair da bolha de apoiadores para recuperar o eleitorado de centro que lhe deu a Presidência em 2018. Há chance real de nem chegar ao segundo turno.

O Centrão sonhava que o presidente tivesse nesse tour uma atitude “presidencial”, de estadista, para mostrar que é um dos grandes líderes mundiais e tem influência no cenário internacional.  Em Londres, no funeral da rainha Elizabeth II, no dia 19, fez exatamente o contrário. Transformou a sede diplomática brasileira em palanque eleitoral, foi gravar vídeo de campanha em posto de gasolina e seus apoiadores causaram indignação ao promover um carnaval eleitoral em pleno feriado de luto pelo sepultamento da monarca. Ao invés de se solidarizar com os ingleses e seguir o protocolo dos outros chefes de Estado, o mandatário transformou o solene palco europeu em micareta para arruaceiros.

Isso levou a uma improvisada gestão de crise em Nova York, hoje, quando Bolsonaro usou a prerrogativa brasileira de abrir a Assembleia da ONU para tentar se apresentar com um discurso moderado. Mas a fala em que tentou exaltar a sua gestão sem falar barbaridades não convenceu a imprensa internacional, já horrorizada com o papelão em Londres. Ao vender a imagem de um País sem corrupção e com pobreza despencando, empregos em alta, economia decolando e meio ambiente preservado exemplarmente, novamente falou para a própria claque.

Seu isolamento é constrangedor. Nos EUA, só conseguiu agenda para falar com líderes de extrema direita da Polônia e do Equador. A falta de sintonia com o mundo não ocorreu apenas pela falta de interlocução. Não defendeu a Ucrânia, que está no centro do debate da opinião pública mundial e da própria ONU, e ainda condenou as sanções econômicas a Vladimir Putin, que nem teve coragem de aparecer em Nova York. É com esse apoio a um autocrata amigo que ele deseja reforçar o pleito brasileiro de ingressar permanentemente no Conselho de Segurança?

A parte mais simbólica e delicada do discurso foi quando se referiu ao Sete de Setembro e às comemorações do Bicentenário da Independência. Ao associar a “maior manifestação cívica da história” ao apoio pessoal a ele, novamente revelou que instrumentalizou a efeméride para conseguir um segundo mandato. Como o palco era global, também tentou indicar que sua recondução é inevitável. Ou seja, quer criar a narrativa para um golpe a ser referendada internacionalmente. Como aconteceu com os atônitos londrinos, a plateia simplesmente deve ignorar.