O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta segunda-feira, 7, que integrantes do “centro democrático” precisam começar a “trabalhar já” para superar a polarização política que se instalou na sociedade brasileira nos últimos anos. “É possível unir o centro democrático progressista, mas é preciso começar a trabalhar já”, disse à reportagem após um evento no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, sobre inteligência artificial e privacidade de dados.

Questionado se vê essa articulação ocorrendo, disse que ainda é cedo. “O Brasil se mobiliza sempre em função da eleição. Vai demorar um pouquinho, mas acredito que haverá um certo cansaço da polarização”. Perguntado se o momento está chegando, respondeu: “Espero”.

O jornal O Estado de S. Paulo mostrou em setembro que um grupo de lideranças tem se mobilizado para viabilizar a construção de uma alternativa de centro na política nacional. Eles defendem uma agenda liberal na economia e “progressista” na área social. Entre os apoiadores, nomes como o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, líderes políticos como o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (sem partido) e o presidente do Cidadania, Roberto Freire. A articulação tem na figura do apresentador Luciano Huck um possível candidato “outsider” à Presidência da República. A possibilidade foi aventada ano passado, mas não vingou.

O tucano também demonstrou preocupação com as fake news, que têm tido papel decisivo em processos eleitorais ao redor do mundo. “Na política, um bom demagogo não precisa da realidade, ele cria uma realidade virtual. (Diz) eu sou vítima, e acabou. Conta a história e o pessoal acredita”. O ex-presidente defendeu a regulação e a capacitação dos profissionais de diferentes meios para lidar com a realidade de uma sociedade cada vez mais conectada.

Durante sua fala no evento, Fernando Henrique comentou que a política é um dos setores mais resistentes aos avanços e às inovações tecnológicas. “Os partidos não conseguiram entender o que vivemos hoje”, afirmou. Para FHC, a crise da democracia representativa vivida hoje no Brasil é um fenômeno global. “As pessoas estão com medo do que vem pela frente, medo do futuro. Há um movimento de polarização e irracionalidade que não é só aqui, é mais amplo”.