Ficção e temas atuais se encontrarão na 70ª edição do Festival de Berlim, que começa nesta quinta-feira com 18 filmes na disputa pelo Urso de Ouro, incluindo uma produção brasileira, e uma nova mostra dedicada a novas formas de fazer cinema.

As atrizes Sigourney Weaver e Margaret Qualley – filha de Andie MacDowell – serão responsáveis pela abertura de um dos festivais de cinema mais importantes da Europa, ao lado de Cannes e Venezm, com “My Salinger Year”, uma história sobre a criação literária e a ambição profissional que será exibida fora de competição.

O brasileiro “Todos os mortos”, de Marco Dutra e Caetano Gotardo, ambientado no fim do século XIX, poucos anos após o fim da escravidão, concorre ao Urso de Ouro, ao lado de filmes como “Siberia”, do veterano Abel Ferrara, e “First Cow”, da americana Kelly Reichardt.

Outro destaque na mostra oficial é “The roads not taken”, da britânica Sally Potter, na qual Javier Bardem interpreta um deficiente auxiliado pela filha (Elle Fanning).

– “Hardcore” –

Outros filmes que desejam suceder “Synonymes”, vencedor do Urso de Ouro do ano passado, são “There is no evil”, do dissidente iraniano Mohamad Rasoulof, e “DAU. Natasha”, um dos filmes do polêmico projeto do russo Ilya Khrzhanovskiy, que recriou uma cidade soviética na qual filmou a vida de 400 pessoas, repleta de violência e pornografia.

“A maioria das cenas deste projeto são hardcore, não apenas este filme”, disse o novo codiretor do festival, Carlo Chatrian, antecipando a polêmica.

No conjunto, a mostra deste ano observa o mundo atual “sem ilusão, para abrir os nossos olhos”, destacou.

A premiação será anunciada em 29 de fevereiro pelo júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons e que tem a presença do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”).

A britânica Helen Mirren receberá o Urso Honorário. Uma das homenagens mais emblemáticas da Berlinale, o Prêmio Alfred Bauer, foi cancelado há algumas semanas, após a revelação do passado nazista do primeiro diretor do festival.

O jornal Die Zeit publicou que Bauer – diretor da mostra entre 1951 e 1976 – foi um alto funcionário do departamento cinematográfico de propaganda criado por Joseph Goebbels, ministro de Adolf Hiltler, além de ter espionado grandes figuras da indústria do cinema durante o III Reich.

Os novos diretores da Berlinale, Chatrian e Mariette Rissenbeek, também anunciaram a criação da mostra “Encounters”, que exibirá obras mais ousadas de cineastas “inovadores”.

Fora de competição, a ex-candidata democrata à presidência americana Hillary Clinton é esperada na capital da Alemanha para apresentar a minissérie autobiográfica “Hillary”. A Pìxar exibirá seu novo filme de animação “Onward” (“Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” no Brasil) e a atriz australiana Cate Blanchett a série “Stateless”.

– Cinema brasileiro “em seu melhor momento” –

O Brasil terá uma forte presença no festival. Dezenove filmes do país foram selecionados para a Berlinale, destaca Kleber Mendonça Filho.

“Estamos no melhor momento da história do cinema brasileiro, apesar de sua indústria estar sendo desmantelada quase diariamente”, declarou o cineasta, crítico do presidente da extrema direita Jair Bolsonaro e de seus cortes na cultura.

Na mostra “Panorama” serão quatro filmes, incluindo o documentário “Nardjes”, do diretor Karim Aïnouz, premiado ano passado em Cannes por “A Vida Invisível”.

Outro documentário, “O reflexo do lago”, de Fernando Segtowick, que mostra a vida de pessoas que moram nas proximidades da hidrelétrica de Tucuruí, também foi selecionado.