Pouca gente sabe, mas esse ano o presidente decidiu, num gesto de humanidade, levar todos os políticos presos, amigos e familiares para passarem as Festas na Papuda.
– Senhores, Natal está acima dessas pequenezas — contestaram os críticos. – E de mais a mais, essa gente ainda é muito influente! Quem sabe vale uns votos para a reforma da Previdência…
A verdade é que o presidente não tem mais o que oferecer em troca de votos.
A nova regra é que vale tudo.
Por isso, assim foi feito.
Mais que isso.
Para não correr risco de magoar alguém, o convite se estendeu a muitos outros nomes que a Lava Jato e o mensalão consagraram.
A medida funcionou. Pegou muito bem no Congresso.
Tanto que até mesmo alguns políticos que nem foram presos resolveram comparecer para prestigiar os colegas.
Numa sigilosa operação da Polícia Federal, longe das câmeras da mídia, Eduardo Cunha, Paulo Maluf, Geddel Vieira, Anthony Garotinho, Sergio Cabral, Rocha Loures, Lúcio Funaro, Delúbio Soares, João Santana, João Vaccari Neto, José Dirceu, Nestor Cerveró e mais uma dezena — talvez centena —
de nomes que conhecemos tão bem se reuniram no refeitório da Papuda na Noite de Natal.
Aécio Neves não só apareceu como foi recebido como herói.
– Esse é fera! — disse Anthony Garotinho para sua senhora — Nele ninguém bota a mão.
Dizem, pode ser intriga, que Garotinho tem uma foto do amigo colada na parede de sua cela.
Por falar em amigo, a primeira atividade foi o amigo secreto.
O presidente em pessoa escreveu os nomes e colocou num saquinho para o sorteio.
Geddel fez cara de contrariado com o nome que tirou.
– Que foi? — cochicha Cunha. – Quem você tirou?
– Dei azar…tirei o Joesley. Ele já tem tudo — responde Geddel.
– Como assim? Eu também tirei! — Cunha reclama.
Em pouco tempo todos percebem a pegadinha do mandatário.
Joesley saiu como amigo secreto de todo mundo.
Não gostaram.
– Ô gente…vamos rir… — pediu o presidente.
Mas só ele riu.
Logo depois do novo sorteio, Sergio Cabral entra no refeitório e anuncia:
– A ceia está servida!
Tender, peru, saladas, carnes, peixe, enfim, tudo o que se pode imaginar.
Cabral estoura uma champanhe (francesa):
– Um brinde ao meu amigo Fernando Cavendish que nos ofereceu esta ceia maravilhosa, com o carinho desinteressado de sempre.
– Viva! Viva! Viva! — gritaram todos.
As músicas de Natal ecoavam do home theatre de uma
das celas.
Não fosse pelas bandejas de alumínio, talheres de plástico e uniformes, ninguém diria que o evento estava acontecendo num presídio.
Mas o melhor ainda estava por vir.
Logo depois da sirene da contagem de presos à meia-noite, no corredor se ouviu o típico hohoho do Papai Noel.
O bom velhinho fez sua entrada teatralmente, carregando seu saco vermelho.
Um silêncio deslumbrado tomou conta do lugar.
Não demora descobrem quem está por trás da fantasia:
– É o compadre!!! — grita Jacob Barata Filho, caindo na gargalhada.
– Hohoho!
– É ele sim! É o Gilmar! — todos correm para abraçar o ministro.
– Hohoho!
A cena é emocionante.
Mesmo.
Em volta do Papai Noel, todos aqueles nomes famosos tornaram-se crianças de novo.
Gilmar, como aquela tia que todos nós temos, distribui envelopes vermelhos para todos.
– É grana? É grana? Hein? Hein? — pergunta Maluf ansioso.
– Que nada! É um indulto de Ano Novo! — Funaro estraga a surpresa.
Ficam todos felizes e se abraçam em júbilo.
Mas no fundo, lá no fundinho, preferiam que fosse dinheiro.


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