De baixo perfil e há anos afastado da política ativa, Alberto Fernández, de 60, assume a Presidência da Argentina nesta terça-feira (10), um retorno inesperado à Casa Rosada.

De centro esquerda, moderado e pragmático, este advogado conquistou a Presidência na chapa composta com Cristina Kirchner, fórmula bem-sucedida que conseguiu aglutinar uma ampla e heterogênea oposição peronista.

Seu desempenho de mais destaque foi como chefe de gabinete do falecido presidente Néstor Kirchner (2003-2007), assim como de Cristina, em 2008.

Rompeu com sua agora vice ao fim do primeiro ano de mandato dela, com declarações duras, em meio ao embate da então presidente com os proprietários rurais e com os grandes meios de comunicação.

Hoje, esse episódio surge como um argumento de demonstração da independência de Fernández, contra aqueles que o acusam de ser uma mera marionete de Cristina.

“Fernández se afastou de Cristina Kirchner em 2008 e renunciou. Ela não conseguiu controlá-lo à época, e muito menos agora”, estando na vice-presidência, em caso de vitória, afirmou o analista Raúl Aragón.

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– “Liberal, progressista, peronista” –

O deputado Daniel Filmus, que foi ministro da Educação com Néstor Kirchner, destaca o candidato como uma pessoa, com a qual se pode “bater papo, relaxar, conversar sobre muitos assuntos”.

“É um homem que, em diversas circunstâncias, mostrou a capacidade de articular atores muito diversos e de muitas ideias diferentes para estabelecer políticas de médio e longo prazo”, elogiou Filmus.

Seus críticos o consideram camaleônico por ter acompanhado setores ultraliberais, como o de Domingo Cavallo, e populistas de esquerda, como o casal Kirchner.

Em sua defesa, Fernández alega que se sente “um liberal de esquerda, um liberal progressista”.

“Acredito nas liberdades individuais e acho que o Estado tem que estar presente para o que o mercado precisar. E sou um peronista. Estou inaugurando o braço do liberalismo progressista peronista”, declarou.

Também gosta de dar destaque à sua amizade com presidentes e ex-presidentes da esquerda latino-americana, como Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, assim como o uruguaio José Mujica, o boliviano Evo Morales e o mexicano Andrés Manuel López Obrador.

– Justiça e Venezuela –

Entre suas declarações mais polêmicas, está o questionamento dos processos judiciais contra Cristina Kirchner.

“A Justiça não está funcionando bem. Por isso, temos que buscar uma alternativa entre todos”, afirmou.

“Isso não quer dizer passar por cima de sua independência, mas vou exigir dos juízes que ajam dignamente”, completou.


Senadora desde 2017 e, por isso, com imunidade parlamentar, Cristina Kirchner está sendo processada em vários casos por suspeita de corrupção. Está em curso um julgamento oral contra ela.

Também causou polêmica sua posição sobre a Venezuela, depois de ter dito que não há ditadura no país vizinho, mas um “governo autoritário”. Na Presidência de Mauricio Macri, a Argentina reconheceu o chefe parlamentar Juan Guaidó como governante interino e foi um dos países mais críticos a Nicolás Maduro.

– Privacidade e discrição –

Fernández é, há 30 anos, professor de Direito na Universidade de Buenos Aires, onde se formou.

Sua vida privada é pouco conhecida, mas seu cão, o collie Dylan, tem contas no Twitter (@dylanferdez) e no Instagram (@dylanferdezok).

Tem apenas um filho, Estanislao, de 24 anos, de uma relação que terminou em 2005. Estrela drag queen e cosplay, de quem Fernández diz ter muito orgulho, o jovem fez um desabafo nas redes sociais há poucos dias.

“Me tornaram uma figura pública sem meu consentimento”, reclamou.

Hoje, Fernández vive com a jornalista de Cultura e atriz Fabiola Yáñez, em Puerto Madero, um dos endereços mais nobres de Buenos Aires.

Entre seus hobbies, está tocar violão. Ele compõe canções românticas e é fã do rock argentino. Torce para o Argentinos Juniors, time de onde saíram os craques Diego Maradona e Juan Román Riquelme.


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