Lembra daquelas férias de verão, quando você era criança e o seu pai um ser invencível? A diretora escocesa Charlotte Wells usou essa idéia universal como inspiração para seu primeiro longa-metragem, que tem chamado a atenção pelo estilo e originalidade. As memórias da infância são os temas que norteiam Aftersun, emocionante drama dirigido com maestria pela jovem Charlotte, hoje com 35 anos, que tinha apenas 27 quando deu início ao projeto. Suas lembranças ganham a tela por meio da visão de Sophie (Frankie Corio), garota de onze anos que passa as férias com o pai (Calum, pesonagem de Paul Mescal), em um balneário na Turquia. O filme não segue exatamente uma história; traz apenas uma coleção de cenas furtivas sobre o dia a dia da dupla. As exceções são os episódios típicos da idade de Sophie – o primeiro beijo e as amizades que surgem em meio a banhos de piscina e partidas de fliperama. O que torna a premiada produção da BBC uma pequena joia é a estética: a filmagem alterna imagens profissionais com cenas feitas por uma câmera amadora, que dão naturalmente a cor desbotada típica dos videocassetes dos anos 1980. Destaque para as atuações de Frankie e Mescal, cujo realismo os coloca bem distantes do glamour hollywoodiano – e bem mais próximos da vida de gente como a gente.

Fazendo as pazes com o passado

Férias de verão com o meu pai
Divulgação

Aftersun é uma obra autobiográfica até na origem dos personagens: pai e filha são de Edimburgo, na Escócia, mesma cidade em que a diretora Charlotte Wells (foto) nasceu. Radicada em Nova York desde 2015, ela dirigiu três curtas-metragens na faculdade antes do primeiro longa, Aftersun. “Meu cérebro estava convencido de que eu estava fazendo um filme sobre férias.
Depois, que era sobre a relação pai e filha. Finalmente vi que era sobre a memória e o luto.”