“Despreocupado e preguiçoso”, de acordo com uma descrição do pai, o ditador que governou as Filipinas por mais de 20 anos, Ferdinand Marcos Jr soube esperar a oportunidade para assumir o poder no país asiático.

Marcos Jr, conhecido pelo apelido de “Bongbong”, sucedeu nesta quinta-feira Rodrigo Duterte depois de vencer as eleições presidenciais de maio.

Com sua vitória, a família volta ao palácio presidencial de Malacanang, em Manila, 36 anos após a revolta popular que derrubou seu pai e os obrigou a fugir para o exílio nos Estados Unidos.

Nesta quinta-feira, durante a cerimônia de posse, “Bongbong” elogiou o trabalho do pai.

“Uma vez conheci um homem que viu quão pouco havia sido alcançado desde a independência… mas ele conseguiu fazer isto”, afirmou, diante da mãe, Imelda, de 92 anos.

Marcos Jr soube esperar a oportunidade e chegar à presidência, apesar de ter sido chamado pelo falecido pai de “despreocupado e preguiçoso”.

Em 2016 foi derrotado na disputa pela vice-presidência contra Leni Robredo, mas “Bongbong” estava determinado a uma revanche e finalmente venceu as presidenciais deste ano com uma mensagem de unidade e a promessa de lutar contra o desemprego e a inflação.

“Quero trabalhar bem, porque quando um presidente trabalha bem, o país vai bem e quero que o país se saia bem”, disse ele a repórteres após a ratificação dos resultados no Congresso.

– Aliado de Duterte –

Embora sonhasse em ser astronauta quando criança, “Bongbong” acabou seguindo os passos do pai e entrou na política.

Marcos Jr foi duas vezes vice-governador na província de Ilocos Norte e também foi eleito para a Câmara dos Deputados e para o Senado.

Os laços com seu pai – responsável por uma sangrenta repressão durante os anos de lei marcial – fazem de “Bongbong” um dos políticos mais divisivos do país.

Mas na época, era um adolescente que estudava no Reino Unido.

Durante a campanha, ele soube aproveitar as redes sociais para lançar uma ampla campanha de desinformação visando os jovens, que não conheceram o governo ou a corrupção em larga escala dos 20 anos de ditadura de seu pai.

Ele também se apoiou na filha do então presidente Sara Duterte, que conseguiu conquistar a vice-presidência.

Marcos Jr e Sara Duterte têm em comum serem filhos de líderes autoritários, o que preocupa grupos de direitos humanos que temem que ambas as famílias se perpetuem no poder.

Marcos Jr defende o regime de seu pai, a quem descreve como um “gênio político”, baseando-se no forte crescimento do início de seu mandato em razão dos altos gastos públicos, mas escondendo a corrupção e a má gestão que acabou empobrecendo o arquipélago.

Mas, querendo evitar os erros da campanha de 2016, quando foi esmagado por perguntas sobre sua família, Marcos Jr ignorou os debates e deu poucas entrevistas, nas quais não se sentiu à vontade.

Mesmo após a vitória, Marcos Jr evita a mídia, preferindo delegar a comunicação à porta-voz Trixie Cruz-Angeles.

Seus adversários tentaram desqualificá-lo da corrida presidencial, citando uma condenação anterior por não declarar sua renda, acusando-o de mentir sobre suas realizações acadêmicas e de não pagar quase US$ 4 bilhões em impostos referentes à herança.

Apesar de tê-lo descrito como “fraco”, o presidente Duterte finalmente apoiou sua candidatura.

Alguns veem esse apoio como uma tentativa de Duterte, alvo de uma investigação internacional por sua sangrenta guerra às drogas, de evitar ser perseguido judicialmente quando seu mandato terminar.