18/09/2016 - 6:50
Boné para trás, cabelo solto e desgrenhado e raquete na mão. Ver Felipe Meligeni em quadra é quase um flashback. A semelhança física entre o jovem de 1,85m e 75kg e o tio famoso incita comparações. A herança genética vem acompanhada do peso do sobrenome. Ex-número 25 do mundo, Fernando foi um dos principais tenistas da história do Brasil. E Felipe teve de aprender desde cedo a lidar com grande expectativa.
“Sempre dizem que a gente é muito parecido. Gosto de ser comparado a ele, sempre foi um cara carismático e guerreiro dentro de quadra. E claro que ter o meu tio como exemplo é muito legal. Mas eu quero fazer o meu próprio caminho, seguir meus passos”, afirma.
Ele garante que não fica incomodado. “Quando eu era menor, falava que sentia a pressão de ser comparado com ele, mas falava por falar, não tenho pressão alguma.” Até reconhece algumas vantagens no início da carreira, mas diz que hoje as portas são abertas exclusivamente pelo seu desempenho.
Na semana passada, Felipe sagrou-se campeão de duplas juvenil do US Open ao lado do boliviano Juan Aguilar. Na volta para casa conta ter sido reconhecido no aeroporto e na padaria. A conquista veio em ótima hora: em sua despedida do juvenil. Com o título, Felipe foi convidado para disputar dois torneios de nível challenger, em Santos e Campinas.
Aos 18 anos, o tenista número 31 do ranking juvenil inicia o período de transição para o profissional e não quer se perder pelo caminho. A meta é estar entre os mil melhores do mundo no próximo ano. Ele aponta que alguns jovens se deslumbram no início da carreira, outros enfrentam uma cobrança excessiva na procura do Brasil por “um novo Guga” e acabam ficando como promessa. Não quer esse destino.
Leandro Afini, coordenador da Afini Tennis, da Associação Esportiva São José, vê seu atleta preparado para a mudança de patamar no tênis. “Jogadores como o Felipe estão fazendo a transição com tranquilidade. O nível do profissional no início é bem próximo do júnior. Quando começa a melhorar o ranking profissional, complica um pouco mais”, explica.
O jogador, que teve seu primeiro contato com o esporte aos cinco anos, conta com o apoio da família à distância desde 2015. Em São José dos Campos, Felipe mora na “casa dos atletas” com outros tenistas e três treinadores e divide o quarto com mais três garotos. A casa de quatro andares fica em um condomínio a cerca de 1 km do clube. “No começo era um pouco difícil, bagunça, mas agora ficou mais tranquilo e todo mundo se dá muito bem”, afirma.
A irmã Carol, número 698 do mundo, não compartilha a moradia com o irmão, mas vive a mesma rotina. Além dos treinos físicos e práticos, aulas de ioga compõem as atividades. A prática auxilia no alongamento e, principalmente, na concentração dos tenistas. Quando não está viajando para as competições, Felipe visita os pais em Campinas. É lá que o troféu do US Open ficará exibido em uma prateleira. Por enquanto, a taça está dentro da caixa: “Ninguém quer que quebre”.
Uma vez na semana ele tenta bater bola com o tio em São Paulo. Apesar de Fernando evitar muitos pitacos no treinamento de Felipe, uma conversa entre eles ficou marcada na memória do sobrinho. “Eu era um menino muito chorão, reclamava do sol, do adversário, da quadra, de tudo. Uma vez ele me perguntou por que eu fazia aquilo. Eu não sabia. Ele abriu minha cabeça, me ajudou a amadurecer. Foi essencial para mim.”
TIO OPTOU POR DEFENDER O BRASIL – Fernando Meligeni, apelidado de Fininho, foi um dos principais tenistas da história do Brasil, embora nascido na Argentina. Conquistou três títulos de nível ATP na carreira em simples – Bastad (1995), Pinehurst/EUA (1996) e Praga (1998) – e sete em duplas, sendo cinco com Gustavo Kuerten. O ex-tenista chegou a ser número 25 do mundo.
Sua maior conquista na carreira foi a medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003. Para completar, ganhou fama ao vencer tenistas consagrados no circuito profissional, como os norte-americanos Pete Sampras e Andy Roddick e o espanhol Carlos Moyá.