David Bowie realizou seus últimos trabalhos sob o espectro da morte. Três meses antes de seu falecimento, em 10 de janeiro de 2016, o cantor e compositor britânico soube que sofria de um câncer terminal. Nesse período, ele conseguiu lançar seu 25.º disco de estúdio, Blackstar, e acompanhar a estreia de seu musical Lazarus, em Nova York, em dezembro de 2015. “São projetos de um artista que esperava pela morte, portanto, recheados de simbolismos”, comenta o encenador Felipe Hirsch, que prepara uma versão de Lazarus, com previsão de estreia em 22 de agosto, quando abrirá uma nova sala de espetáculos, o Teatro Unimed.

O musical apresenta uma série de canções que pertenciam ao catálogo de Bowie (como Heroes, Life on Mars e Absolute Beginners), além quatro novas faixas (Lazarus e Killing a Little Time são algumas) – todas serão interpretadas em inglês, por obrigação contratual. Inspirado no romance de ficção científica O Homem que Caiu na Terra – escrito por Walter Travis, em 1963, e levado ao cinema em 1976, com Bowie no papel principal -, o espetáculo acompanha a atormentada vida de Thomas Newton, um alienígena que vive na Terra disfarçado de humano, incapaz de morrer.

“Bowie falava sobre isolamento e, no caso dele, referia-se aos dez anos em que estava sem gravar um disco”, comenta Hirsch. “O personagem de Lazarus permanece diante da TV para expressar sua solidão, o que é semelhante aos dias de hoje, em que as pessoas fixam seu olhar diante de várias telas, também isoladas.”

Conhecido pelas novidades que acrescenta às suas encenações, Hirsch aceitou o convite também por ter a liberdade de modificar o original, criado por Bowie e pelo dramaturgo irlandês Enda Walsh. Assim, para a direção musical, ele convidou Maria Beraldo e Mariá Portugal, hábeis em criar sonoridades a partir da voz e de instrumentos. Os ensaios começam no dia 20 de junho, mas um detalhe está definido: nenhum ator interpretará um personagem que lembre David Bowie. “Pretendo espalhar suas características entre todos eles – assim, Valentine trará referências da fase mais cabaré de Bowie.”

Hirsch também não pretende se prender no filme estrelado pelo cantor. “Era uma fase em que ele queria ser ator, mas é notável como Bowie é maior que o longa – ele não cabe na história”, afirma. “A experiência extraterrena tratada pelo musical também não pode ser facilmente identificada com a morte, pois Bowie não era um artista óbvio. O que se vê ali é um homem buscando descobrir como viver seu último ano de vida.”

De fato, ao discutir o musical com Bowie, o dramaturgo Walsh relembrou, em entrevista à France Presse, em 2016, que a conversa versou primeiro sobre como uma pessoa experimenta a morte. “Começamos falando sobre escapar, mas logo o foco foi para alguém que tenta encontrar o descanso. Sobre morrer de uma maneira mais fácil.”

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O musical aborda temas próximos a Bowie: a busca de identidade, o sentimento de solidão e abandono e as relações com os outros e com o mundo. Por lidar com tantos temas, Hirsch optou também por montar um elenco heterogêneo, com atores experimentados em musical, como Bruna Guerin, como aqueles ainda debutantes – é o caso de Jesuíta Barbosa, que estreia no gênero. Outros nomes já confirmados são Carla Salle, Erom Cordeiro, Luci Salutes, Natasha Jascalevich, Olivia Torres, Rafael Losso e Valentina Herszage. O período, agora, é de pesquisa. “Estou fascinada por conhecer mais profundamente o universo do Bowie”, diz Bruna. “Era um artista plenamente teatral: sua poesia abraçava todas as artes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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