Entre as 60 tendas da 16ª Feira LGBT, espalhadas no Vale do Anhangabaú, uma em particular chamava atenção: o estande de oficina de drag queens. Em início de carreira como drag, o participante da oficina Paulo Sérgio Viana, de 25 anos, é Yasmin Carraroh quando montada e ontem aproveitou a aula para descer do salto e aprender mais técnicas de maquiagem, comportamento e postura. “Por mais que eu já seja pronto, sempre aprendo como esconder melhor a sobrancelha, como me portar no palco e como não ter medo ou vergonha numa apresentação”, explicou.

A Feira é um aquecimento à Parada LGBT, que ocorrerá no próximo domingo, 29. O evento reuniu tendas com teste HIV grátis, DJs e distribuição de preservativos, além do Conselho Regional de Psicologia, as Mães Pela Diversidade e a Comunidade Cidade Refúgio (igreja evangélica que inclui homossexuais, transexuais e travestis). Desde 10 horas, um palco estava montado para apresentação de performances de artistas LGBT, previsto para terminar às 22 horas.

A oficina foi ministrada pelos quatro integrantes do Esquadrão das Drags, um projeto da Secretaria Estadual de Cultura. Sissi Girl, que não quis revelar a idade porque “drag é atemporal”, é uma das participantes do Esquadrão e explica que a proposta do grupo é transmitir mensagens de cidadania, prevenção e respeito.

“O Esquadrão começou porque os agentes de saúde iam entregar preservativos e as pessoas não pegavam. Então decidiram criar uma forma de chamar atenção para a causa. Somos coloridas e irreverentes para atrair, principalmente, os jovens. E a eles nós indicamos, por exemplo, onde ele pode fazer teste rápido”, conta Sissi, que é enfermeiro.

Enquanto os dez alunos da oficina se maquiavam na mesa, as quatro drags se alternavam no microfone passando mensagens de conscientização sobre sexo seguro. Enquanto alguns aprendiam a se maquiar, perto dali outro grupo dançava diante de uma das tendas.

Pelo menos 200 membros da Comunidade Cidade Refúgio estiveram ontem na Feira para evangelizar os participantes. A pastora Lanna Holder explica que a Cidade Refúgio foi criada para “incluir os que foram excluídos”. “Deus os criou assim e os aceita assim”, disse, em referência aos homossexuais e às transexuais.

Inclusão

Lanna conta que a Comunidade evita responder diretamente às críticas de fundamentalistas da comunidade evangélica que não os reconhece como Igreja. “Nossa resposta é a inclusão. Precisamos mostrar um lado de Deus que os homossexuais desconhecem. Deus não é aquele que manda os gays para o inferno. Eles (fundamentalistas) usam a palavra para matar e nós, para dar vida”, afirmou.

A tenda do Conselho Regional de Psicologia distribui há pelo menos seis anos panfletos informativos aos frequentadores da Feira. Luís Saraiva, conselheiro-presidente da Comissão de Ética e um dos coordenadores do Núcleo de Sexualidade e Gênero do Conselho, destacou que entre as principais dúvidas ainda lidera a preocupação dos homossexuais com a patologização.

“As pessoas que param na tenda querem saber se os psicólogos podem oferecer cura gay, se esse atendimento pode incluir reversão, e nós orientamos que sejam feitas denúncias junto ao Conselho contra esses psicólogos”, disse. Saraiva ressaltou, porém, que o número de denúncias ainda é baixo, por falta de conhecimento sobre os direitos do usuário a um “serviço de qualidade”.

O casal Luiz Dantas, ator de 22 anos, e Felipe Rodrigues, estudante de 23, foram à Feira por considerar que o evento é um ato político e não somente uma festa. Dantas afirmou que o País vive uma “onda de retrocessos”, especialmente na questão trans, com a retirada do direito do nome social das transexuais. O tema da edição da Parada deste ano é pela aprovação da Lei de Identidade de Gênero. “O tema foi escolhido antes de acontecer essa retirada de direitos e ser a bandeira da Parada é importante porque dá destaque a uma luta que precisa de visibilidade”, disse.