Tribunal alemão condenou antigos dirigentes da federação por escândalo relacionado ao torneio de 2006, realizado no país; julgamento durou mais de uma década.O Tribunal Regional de Frankfurt decidiu nesta quarta-feira (25/06) que a Federação Alemã de Futebol, conhecida pela sigla alemã DFB, deve pagar uma multa de 130 mil euros (cerca de R$ 842 mil) por fraude fiscal relacionada à organização da Copa do Mundo de 2006, realizada no país.
A decisão encerrou um processo de dez anos motivado por alegações de que a organização fez um caixa dois para comprar votos de membros do comitê executivo da FIFA para garantir a escolha do país como sede do torneio.
O Ministério Público acusou ex- dirigentes a DFB de sonegar cerca de 2,7 milhões de euros (R$ 17,5 milhões) em impostos e exigiu que a federação pagasse uma multa de 270 mil euros (R$ 1,7 milhão). A defesa rejeitou a acusação de sonegação fiscal intencional e pediu a absolvição.
"O tribunal tem certeza, sem sombra de dúvida, de que a DFB sonegava impostos e que os envolvidos toleraram isso", disse a juíza Eva-Marie Distler, segundo a agência de notícias dpa.
Da multa aplicada, 20 mil euros foram descontados devido a "atrasos processuais" no caso.
Distler foi contundente em suas críticas à DFB, dizendo que ela apresentou uma "imagem catastrófica" na investigação do caso e deve arcar com os custos do processo.
Os processos recaem contra dois ex-presidentes da DFB, Theo Zwanziger e Wolfgang Niersbach, e contra o vice-presidente do comitê organizador da Copa do Mundo de 2006, Horst R. Schmidt. Eles haviam sido arquivados anteriormente em troca do pagamento de multas – Zwanziger pagou 10 mil euros, Niersbach, 25 mil euros, e Schmidt, 65 mil euros.
Eles foram acusados fazer uma declaração de imposto de renda incorreta referente a 2006 para permitir que a federação sonegasse milhões em impostos.
Nenhum representante da DFB participou da investigação ou do julgamento. "É preciso perguntar: eles não estão levando o sistema judiciário a sério?", questionou a juíza.
A DFB pode recorrer da decisão. "A DFB fará uma avaliação final dos próximos passos após receber e avaliar as razões escritas para a sentença", afirmou a organização, em comunicado.
Caixa dois para a Copa do Mundo de 2006?
A declaração de imposto de renda fraudulenta incluía um pagamento de 6,7 milhões de euros da DFB à FIFA, órgão máximo do futebol mundial. A DFB alegou que o dinheiro era para custear uma festa de gala da Copa do Mundo — evento que nunca ocorreu e que, por isso, não poderia ser dedutível de impostos, que totalizariam 2,7 milhões de euros.
O pagamento levantou suspeita de que teria sido usado como caixa dois para comprar votos a favor da candidatura da Alemanha para sediar o torneio de 2006.
De acordo com o tribunal, o valor teria sido usado pelo então presidente da Copa de 2006, o lendário ex-jogador Franz Beckenbauer, falecido em janeiro de 2024.
O valor foi pago pelo comitê organizador, por meio da FIFA, a Robert Louis-Dreyfus, ex-CEO da gigante alemã de artigos esportivos Adidas.
Em 2017, a Receita Federal alemã ordenou que a DFB pagasse mais de 20 milhões de euros em impostos atrasados referentes ao ano de 2006.
Após o escândalo, a DFB perdeu o status de entidade de utilidade pública. "A DFB não pode se dar ao luxo de tudo, mesmo que o futebol seja o esporte favorito dos alemães", frisou a juíza, afirmando que a imagem da federação ficou "manchada". Segundo Distler, os dirigentes da DFB "realizaram pagamentos não declarados e sustentaram o sistema corrupto da FIFA".
A Copa do Mundo de 2006 é popularmente conhecida na Alemanha como o "conto de fadas do verão" devido à campanha da seleção da casa até as semifinais e aos estádios e áreas de exibição lotados em todo o país, que atraíram centenas de milhares de torcedores.
sf (DW, dpa, AP)