Fed fará ‘o que for necessário’ diante de inflação ou crise

Fed fará 'o que for necessário' diante de inflação ou crise

Evitando se referir às críticas do presidente americano, Donald Trump, o chefe do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell, disse nesta sexta-feira (24) que a entidade fará “tudo o que for necessário” para administrar a inflação ou reagir a uma nova crise.

Os últimos ataques de Trump ao Fed geraram especulação sobre se a política estaria presente no discurso com que Powell abriria a reunião anual com membros de bancos centrais do mundo todo e acadêmicos em Jackson Hole; um balneário montanhoso do estado de Wyoming.

No entanto, o tom de Powell foi mais técnico do que político, com referências às críticas de Trump à política monetária do Fed e menção ao risco econômico do protecionismo comercial.

Nesta semana, Trump, quebrando uma tradição de respeitar a independência do banco central, reiterou seu descontentamento com a política monetária que lentamente aumentou os juros por duas vezes neste ano e que espera elevar outras duas até o final do ano.

Powell se concentrou nos debates de política monetária e nos desafios enfrentados pelo Fed e ressaltou que todos os membros do organismo estão atentos aos dados econômicos.

“Acredito que o FOMC (comitê de política monetária do Fed) fará ‘tudo o que for necessário caso a inflação supere com alta ou baixa as expectativas ou se uma crise voltar a ameaçar”, disse.

Ele acrescentou que a economia dos Estados Unidos continua sendo sólida e que qualquer pessoa que busque trabalho encontra. Além disso, lembrou que os preços estão se movimentando em torno da meta inflacionária de 2%.

“Não vimos sinais de uma aceleração acima de 2% e isso não parece mostrar riscos elevados de aquecimento” econômico, disse.

Consequentemente, “se o crescimento da renda e do emprego continuar forte, provavelmente será apropriado novos aumentos graduais dos juros”, explicou.

Enquanto a economia americana se recuperava, em 2015 o Fed começou a elevar a taxa de juros, que na época era de praticamente zero. Desde então subiu a taxa sete vezes e para o restante deste ano esperam-se mais aumentos; um em setembro e outro em dezembro.

Trump argumenta que aumentar os juros, o que encarece o dólar e reduz a competitividade dos exportadores americanos, pode acabar desacelerando o crescimento e anulando o benefício da redução de impostos, aplicada há nove meses.

Trump disse que não está “contente” com a alta os juros que atualmente se situam entre 1,75% e 2%.

Esta semana foi mais longe e em uma entrevista recusou confirmar o compromisso de respeitar a independência do Fed; o que potencialmente pode prejudicar os mercados.

Não é comum nos Estados Unidos que os políticos, e especialmente a Casa Branca, critiquem o Fed. Esses comentários podem ser interpretados como uma pressão à entidade, que pode ser induzida a tomar decisões economicamente inconvenientes.

Em seu discurso, Powell reforçou a importância de assegurar que nem as empresas nem os consumidores acreditam que a inflação tende a se acelerar; algo que os economistas definem como “ancorar” as expectativas inflacionárias.

“Uma lição absolutamente importante para os responsáveis pela política monetária: ancorar as expectativas inflacionárias de longo prazo é uma pré-condição vital para alcançar outras metas de política monetária”, disse.